Coronéis do Cacau

Não podemos tomar como verdade o que é visto em novelas ou romances como “Gabriela”. Aquilo é uma leitura feita por um autor que em tendo vivido na região justifica suas falas, o que alguns tomam como verdade absoluta dos fatos, seria no mínimo irracional atribuir real ao imaginário, a ficção. Tenho escutado muito ser dito a respeito do caráter e personalidade dos coronéis da é...
poca, da ilhéus do inicio do século que gerava a riqueza de todo um estado como homens inescrupulosos, violentos com suas famílias, verdadeiros ditadores, há casos de coronéis feitos pelo dinheiro cuja origem remonta os quilombos entrincheirados na mata fechada da região que com o advento da abolição e plantio de cacau se fizeram riquíssimos porem não bem aceitos socialmente, compraram o passaporte para a notoriedade através da forca, do sangue e da compra de bons espécimes brancos para casar com seus filhos e filhas afim de clarear e se fazer mais bem aceito nas gerações futuras. Porem a violência e o grosseiro são justamente as imagens que ficam registradas na memoria das pessoas de fora ou mesmo aquelas que tem pouco conhecimento da historia. Mas haviam os homens de bem ciosos de sua origem humilde ou não que eram pais de família e empreendedores exemplares, alguns cultos e refinados que somavam em boa quantidade na cidade. Cito Joaquim Manso que mesmo não sendo coronel feito foi “entronizado” como tal, riquíssimo homem de refinamento e educação impar.

Tivemos intelectuais dos mais prestigiados e esclarecidos como Professor Nelson Schaun, homem de mente brilhante, visionário e por isso rotulado comunista e dai perseguido, foi outro exemplo de homem em São Jorge dos Ilheos, sem falar em Dr Salomão da Silveira intelectual amante dos leiloes de arte e antiguidade homem dos mais prestigiados da regiao.

Os coronéis eram títulos alguns doados e outros comprados por pessoas que numa determinada época tinha poder econômico, de forma que muitos “coronéis” nem tinham o titulo, da mesma forma que hoje chamamos alguém de “doutor” sem ter doutorado ou “marajá” sem ao mínimo ser indiano.

Os “coronéis” de ilhéus alguns deles foram estereotipo de uma civilização, com a riqueza gerada resultou na estruturação da cidade e criaram instrumentos positivos como Associações, Cooperativas, Estradas, Novas áreas urbanas, tudo claro devido ao desenvolvimento econômico da época. Não significa que um ou outro ou o grupo seja o responsável especifico. Vi uma citação sobre o Misael Tavares q contribuiu em alguns aspectos e cito o exemplo de uma ponte para ligar Ilhéus a Itabuna, conhecida como a Ponte do Fundão, e a inauguração foi muito interessante, segundo relatam, quando o governador concedeu a palavra a ele, sua fala foi “os de la vem pra ca e os de ca vai pra la”, poderia não ter a sofisticação e boa criação mas criou o primeiro grande hotel da cidade, um banco, varias empresas gerando mais riqueza a região, ou seja foi um grande empreendedor, assim como temos alguns hoje em dia, foi um dos mais conhecidos com certeza porem não podemos estampá-lo como modelo de ética ou moral para ninguém, isso é uma realidade da qual não podemos fugir, mantinha empregados em suas fazendas com trabalho sub remunerado qdo as vezes não remunerado ( devido a compras nas mercearias das mesmas ), enfim. Outros tiveram tb importante papel na criação da “civilização do cacau”. Adiantando o tempo, cito tb Henrique Cardoso que foi dos melhores gestores da cidade, dos tempos quando ser prefeito era cuidar da cidade e não enriquecer e se beneficiar, homem de palavra e personalidade forte, características que faltou a muitos que o sucedera, ate hoje, e esta a razão de Ilhéus viver em maus lençóis, em crise crônica sendo motivo de piada Brasil afora, afinal ser Ilheense há quarenta anos atrás era motivo de orgulho, hoje de lastima e pesar para alguns ate vergonha. Tal pesar devemos certamente aos últimos gestores. A Uesc esta em terreno que foi doada por um grande cacauicultor de meado do Séc XX , assim como o terreno onde hoje esta instalado o aeroporto e outras contribuições de tantos outros homens bons e de brio. Não podemos nivelar a todos, algum realmente apesar de algum brilho que hoje reluz em sobrenome situam-se ao nível rodapé. Quem poderá não render tributos ao espírito empreendedor de um um Matarazzo, Guinle, Paula Machado ou nos EUA a um Rockfeller, Vanderbilt, todos “barões” em suas épocas, com grandes contribuições porem algumas praticas não tao ortodoxas. Estudar mais a historia afim de não repetir o ouviu de algum ressentido social deveria ser obrigação pois isso se chama educação.

Texto Helio Junior
Foto Acervo de Chico Passos