CARTA A UMA SENHORA QUE DESCANSA EM INEMA

Eu postei essa matéria que vi no blog do Jorge Portugal no face,depois vi no blog do Gusmão achei por bem também repostar no meu pela bela forma de protesto.

Presidenta querida, aqui lhe escreve um admirador de primeiríssima fila ( lembra-se da expressão na Pousada do Carmo por ocasião do Afro 21? A senhora me disse que adorou e até gostaria de usá-la) e que tem a remota esperança de que estas mal traçadas cheguem ao seu conhecimento.Mas o faço como os náufragos que jogavam garrafas ao mar.

Longe de mim perturbar seu sossego, afinal se existe paraíso de verdade, o Criador deve ter-se inspirado em Inema para fazer a praia de lá.Contudo, o assunto que me traz aqui é um desses impulsos insuportáveis que ficam perturbando nossa indignação até que a gente desabafe.

Li, hoje num desses jornalões sudestinos, que a irreprovável FGV, em pesquisa recente, chegou à conclusão de que um professor no Brasil ganha sempre 40% a menos que qualquer outro profissional com o mesmo nível de graduação.Ou seja, o profissional que é ponto de partida para todos os demais profissionais tem o seu salário quase sempre reduzido à metade do que ganham os outros.Escárnio? Ironia?Requinte de crueldade? Será que não está aí a chave de todos os nossos gargalos no campo do desenvolvimento social já que educação de qualidade é a única arquiteta e provedora do futuro?Não sou educateca (obrigado, Gaspari), não escrevo e nem falo pedagogês complicado, sou apenas um educador a cujo trabalho a Bahia( e parte do Brasil) assiste todos os dias e, ao que eu saiba, aprova.

Sei da sua paixão pela educação – aliás, a única presidente da nação que utilizou cadeia nacional de rádio e TV para saudar o início do ano letivo.Estou eufórico com o Pronatec, com a ampliação dos campi federais de ensino superior, adoro-a revelando seus livros prediletos e acompanhei – discreto mas extasiado – a senhora cantando todo o repertório de Gilberto Gil, conhecendo as letras de cor, naquela mesma Pousada do Carmo no Afro 21. “Essa é do ramo”, pensei comigo!

Por isso, retorno ao assunto: que recém-formado(a) terá estímulo para abraçar uma profissão que, de cara, já o deixará economicamente inferiorizado ante as demais profissões? Num mundo cada vez mais regido pelo dinheiro, que estudante genial ( de Química, Matemática, Física, Inglês) , mas sem o ideal de nossa geração, sairá aos pulos da universidade para reger classe no ensino médio?

Vem aí um novo PNE e eu lhe peço encarecidamente: ponha a mão nisso.Chegue junto com autoridade e paixão e não deixe que a área econômica trate com descaso os 10% do PIB para educação.China e Índia não estão brincando.Não aceite brincadeiras também.Lembre-se de mestre Anísio Teixeira: “ O ensino público de qualidade é a única máquina de fazer democracia”.Com professores ganhando dignamente, essa máquina pode até voar.

Abraço baiano cordial

Jorge Portugal