Os porões da vida

Há atos de desrespeitos à Dignidade Humana que, por serem tão vergonhosos e violentos, a própria sociedade automaticamente os caracterizou como criminosos. Não conseguindo impedi-los, também não aceita conviver com eles às claras. Ficam assim escondidos nos ‘subterrâneos’, nos escuros ‘porões’ da cidade. Infelizmente, tais atos são frequentes na vida quotidiana do povo ilheense e atingem um grande número de pessoas e se multiplicam. É o que se passam, entre outras situações, os pedintes que proliferam nos bares, lanchonetes e casas comerciais espalhadas pela cidade, ou entre os dominados pela droga ou mesmo que traficam ou são ‘mulas’, ou ainda adolescentes que começam a viver no mundo do crime e da marginalidade. Reflexo da falta de políticas públicas, reflexo muitas vezes da ação familiar.
     Há atentados gravíssimos à dignidade, antes totalmente escondidos, e que agora afloram à superfície dos ’porões’. Entre eles citamos a prostituição, em suas várias modalidades, inclusive infantil, antes na calada da noite, e agora se escancara nas ruas. É facilmente encontrar garotinhas e garotinhos se prostituindo em pontos turísticos da cidade. Todo mundo sabe, menos as autoridades ‘competentes’. Reflexo da falta de políticas públicas, reflexo muitas vezes da ação familiar. A exploração do trabalho infantil, uma forma de violência no trabalho equivale ao trabalho escravo, praticamente aceito como uma decorrência inelutável das dificuldades econômicas vividas por um povo miserável.
     A multidão dos sofredores de rua, jogados a mais completa objeção na cidade, pois muitos não têm onde morar e, entre eles, há um elevado números de doentes mentais, adultos comendo lixo, crianças cheirando cola, solvente e esmalte de unha, como também idosos que sofrem as injustiças sociais e penam por falta de políticas públicas governamentais, numa total omissão do executivo e complacência e inércia de um legislativo que não legisla.
     É uma cruel realidade com a qual muita gente, aos poucos vai se acostumando como natural... Ignoramos tudo. A sociedade organizada que anda a passos de tartaruga precisa discutir esta questão. E, que o próximo gestor coloque como pauta o estudo e ações para esta terrível ferida.
     No início usavam maconha, cocaína, cola de sapateiro, solvente, crack e, agora descobriram um novo de tipo de entorpecente: O esmalte de unha. A crise financeira também chegou a aqueles que moram na rua. São pedintes que, normalmente cruzam a cidade de um lado a outro, na busca de trocados com a finalidade exclusiva de comprar algum tipo de droga.
     Com a população sabedora do vício do pedinte, normalmente vem negando qualquer tipo de “esmola” monetária, já que todo dinheiro arrecadado é para a compra de drogas. No entanto, a turma do vício descobriu algo bem mais barato e de fácil acesso, porém, de destruição tão avassaladora como o solvente thinner.
     Na composição do esmalte de unha é encontrada muita química prejudicial à saúde: Polimetilacrilato; resinas de plástico; esteralcômio de hectorita, que é usado em baterias de celular, minério altamente tóxico de onde é extraído o lítio; O esmalte contém também nitrocelulose que é utilizado como detonador de explosivos; copolímetro de etileno e poliuretano para fabricação de látex. A inalação constate do esmalte deixa o usuário em estado de alucinação, fora de si, sem controle, podendo até mesmo chegar a óbito por insuficiência respiratória.
    Para Luiz Carlos Silva, ex-viciado em cocaína por 15 anos, a libertação das drogas se deu por sua própria luta em deixar o vício e o trabalho social que foi realizado em Caxias do Sul (RS) onde vivia. “Percebo que falta uma política pública na cidade, que coordene de forma eficaz a prevenção, o tratamento e principalmente a reinserção social. O Comitê precisa envolver o Ministério Público de forma mais ativo, a Polícia e o Judiciário no combate aos pontos de vendas de drogas na cidade e mais ainda: que o Comitê trabalhe de forma mais concreto e até mesmo ecumênico, dando atenção a todo tipo e espécie de drogas e drogados, como alguns pedintes, por exemplo, que utilizam e inalam o esmalte de unha como forma de vício, na frente de tudo e de todos, e sem se ver ninguém materializar as ações”, conclui Luiz Carlos.
 ELIAS REIS é Articulista e Presidente licenciado do Sindicato dos Radialistas de Ilhéus.