Patos, gansos, lulas e pardais.


Chico de Andrade
Geógrafo, escritor, professor

e cientista político.




Na minha velha infância, Lula era apenas um molusco, patos eram aves que integravam a paisagem de muitos parques públicos e os gansos, com sua beleza admirável, voavam alto. No entanto, sabemos que tudo muda. Ao longo da ultima década, a internet, a telefonia celular e, mais recentemente, a popularidade das redes sociais, revolucionaram a forma como nos comunicamos, e consolidaram o processo de globalização econômica e cultural, que possui a agilidade das informações como uma de suas características principais.

Diante de tantas mudanças, é natural que outras coisas tenham se modificado. Hoje, Lula é um ex presidente que figura entre as personalidades de maior popularidade do planeta, pato é um famoso jogador de futebol, ganso é um jogador que faz dupla com pato e disputa para ver quem voa mais alto diante de Mano Menezes, o técnico perdedor, e pardais representam um instrumento nojento e inescrupuloso, odiado pela sociedade organizada, cujo objetivo é multar a parcela da população que dirige, e só quer um pouco de paz.

Os famosos pardais deveriam representar um mecanismo eficiente para educar os motoristas, mas as autoridades descobriram nos famosos pardais uma forma de arrecadar muito dinheiro e prejudicar a sociedade. Em Ilhéus, por exemplo, até onde é proibido instalar pardais resolveram instalar, e não pouparam ninguém. Ninguém mesmo. Segundo informações, parece que nem o querido e famoso padre João Oiticica escapou. O que podemos fazer, senão reagir a esse escândalo?Li esse ano um artigo em que o autor lembrava que tudo o que o homem fabrica vira sucata, e só o que não vira sucata é rã, árvore, rio, sapos. O autor tinha razão.

Os pardais de sucata, por exemplo, em nada contribuem para a educação dos motoristas e a qualidade de vida da sociedade. Quero voltar ao tempo em que os únicos pardais eram os que faziam ninhos e voavam entre as árvores. Tenho certeza que não apenas eu, mas a imensa maioria das pessoas. A sociedade perdeu a paciência diante de tantos descalabros.