Fidel Alejandro Castro Ruz faz 85 anos


           Por Ubiracy de Souza Braga, sociólogo (UFF), cientista político (UFRJ), doutor em ciências junto à Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Professor Associado da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Esta noite milhões de crianças dormirão na rua, mas nenhuma delas é cubana” (Fidel Castro).
Fidel Alejandro Castro Ruz nasceu no dia 13 de agosto de 1926, no povoado cubano de Birán, província de Holguin. Seu pai, Ángel Castro Argiz, era um agricultor neste povoado. Fidel Castro foi presidente de Cuba desde a Revolução Cubana (1958-1959), que derrubou o governo pró-americano do general Fulgêncio Batista, até fevereiro de 2008. Esta revolução tinha um caráter nacionalista e socialista, pois recebeu forte influência do “companheiro” Ernesto Che Guevara (conhecido como “Che”) e do irmão de Fidel, Raul Castro. Após a revolução social, Fidel Castro aproxima-se da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, fazendo de Cuba uma aliada do socialismo na América Latina. Fato que fez com que os Estados Unidos passassem a tratar a ilha como uma perigosa inimiga. Os Estados Unidos, na década de 1960, implantou um bloqueio econômico a Cuba, influenciando também na expulsão do país da OEA – Organização dos Estados Americanos (cf. Gonzalez-Manet, 1990).

Após a revolução, Fidel implantou um sistema socialista na ilha, acabando com a desigualdade social entre os cidadãos cubanos. Implantou uma economia planificada, que contou com o apoio soviético durante a Guerra Fria. Após a queda do muro de Berlim e o fim dos regimes socialistas na Europa Oriental, Cuba começou a passar dificuldades sem os investimentos soviéticos. Atualmente, embora possua um bom sistema educacional e de saúde, os cubanos sofrem com as dificuldades financeiras.  Castro ocupou o cargo de primeiro ministro da República de Cuba de 1959 até 1976. Em 2 de dezembro de 1976, passa a ser o presidente do Conselho de Estado (chefe do Estado) e presidente do Conselho de Ministros (chefe de governo) de Cuba. Além de todos os cargos que acumula no governo, é o primeiro secretário do PCC desde a sua fundação em 1965.
Líder e secretário-geral do partido desde sua fundação, em 19 de abril de 2011, Fidel, que havia entregue o cargo de presidente em 2006, foi substituído como secretário-geral do Partido Comunista Cubano por seu irmão, Raul Castro, retirando-se oficialmente da vida política do país. Ganhou o Prêmio Olivo da Paz do Conselho Mundial da Paz em 2011, pela coexistência pacífica entre as nações e por ser uma personalidade que contribuiu para o desarmamento. Isto é importante. Após 49 anos no poder, em 19 de fevereiro de 2008, Fidel Castro anunciou sua renúncia ao cargo de presidente de Cuba e à chefia do Partido Comunista Cubano. O sucessor de Castro, no comando de Cuba, é seu irmão mais jovem Raul Castro. Embora não possua o mesmo prestígio que o irmão, Raul passou a sentir o gosto do poder no final de julho de 2006, após os problemas de saúde apresentados por Fidel Castro. Em abril de 2011, durante o 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba, Fidel castro renunciou a chefia do PCC. Na ocasião, Fidel afirmou que ainda seria um “soldado de ideias”.
A Revolução Cubana foi um movimento armado, inicialmente, que levou à derrubada do ditador Fulgêncio Batista de Cuba em 1º de janeiro de 1959 pelo Movimento 26 de Julho liderado por Fidel Castro. Antes de ele chegar ao poder em 1959, Cuba parecia destinada a ser uma ilha perdida no meio do Caribe. Com ele, o país se tornou socialista, dividindo opiniões mundo afora. Agora, com Fidel afastado, o que será de Cuba sem o comandante? “Aqui, há quatro séculos os exploradores espanhóis se abasteciam de água para seguir terra adentro, de onde retiravam barcaças cheias de prata, níquel e cobre, enchiam seus galeões e partiam do porto de Carenas seguindo para a Europa”, diz Cirules. “Aqui, os cubanos armaram barricadas para expulsar os espanhóis e conquistar sua liberdade, em 1868, no primeiro movimento de Independência de Cuba, a chamada Grande Guerra. A luta contra os espanhóis se estenderia até 1898. E esse é o primeiro capítulo da história da Cuba moderna”.
Historicamente falando na luta pela Independência, os cubanos enfrentaram um império que, apesar de decadente, ainda era infinitamente superior em armas e tropas ao pequeno exército de colonos, que reuniu, no máximo, 12 mil homens – a maioria recrutada entre o contingente de 300 mil escravos. Os espanhóis reagiram aumentando sua presença militar na ilha, mas no fim do século XIX o poder da coroa espanhola não era mais aquele e o reforço foi formado, em sua maioria, por jovens lavradores do interior da Espanha. Entre os convocados às pressas para salvar a Pérola das Antilhas, como os espanhóis chamavam Cuba, estava um rapazote de 20 anos, chamado Angel Castro. Angel chegou a Cuba em 1891, quase não lutou, mas foi feito cabo e, após o conflito e uma rápida volta à Espanha, retornou de vez à ilha, arrumou trabalho e fez fortuna. Antes de completar 50 anos, possuía 11 mil hectares, onde plantava cana, feijão e fumo e criava gado. Tinha oficinas, matadouro, rinhas de galos, leiteria e fábrica de queijos. Angel Castro se casou e teve filhos. Dois deles teriam seus nomes ligados para sempre à história política de Cuba: Fidel e Raul.
A partir da guerra contra a Espanha, outro nome se entremearia à história cubana para sempre: o dos Estados Unidos. “O país sempre foi um dos principais parceiros econômicos da ilha, localizada a apenas 144 quilômetros de sua costa, e desde o século anterior tornara-se o principal importador de açúcar, tabaco e frutas de Cuba”, diz o historiador americano Richard Pells, professor da Universidade do Texas. “Quando estourou a guerra pela independência, os Estados Unidos já eram a grande potência do continente. Haviam expulsado os ingleses e negociado a retirada de franceses e russos da América e não admitiriam mais a intervenção de um império europeu tão perto de seu território”, afirma Pells. Para ele, era natural que os americanos apoiassem a independência cubana.
No início foi um envolvimento tímido e restrito aos meios diplomáticos, mas isso mudaria em fevereiro de 1898, quando um navio de guerra americano, o USS Maine, explodiu e afundou no porto de Havana. Até hoje se discutem as causas do evento, mas, na época, não houve dúvidas: fomentada pela imprensa, a opinião pública americana se convenceu de que os espanhóis haviam sabotado o Maine. Em maio, o governo americano declarou guerra ao Império Espanhol. Os combates que se estenderam pelo Caribe e Pacífico levaram poucas semanas. Os americanos venceram e, em 12 de agosto, impuseram o Tratado de Paris, pelo qual os espanhóis perdiam suas últimas colônias na América: Cuba, que ganhou a Independência, e Porto Rico que permaneceu – e permanece até hoje – possessão americana, além de territórios no Pacífico (Guam e Filipinas).
“A vitória na guerra atraiu grandes companhias americanas de frutas e tabaco e a presença americana em Cuba se intensificou”, diz o historiador Bruce J. Calder, professor da Universidade de Illinois, em Chicago, especialista nas relações entre os Estados Unidos e os países da América Latina e do Caribe. “Isso fez com que o governo americano passasse a intervir efetivamente para defender seus interesses na região”, afirma. Por isso, eles só deixaram Cuba, em 1902, depois de incluírem na Constituição cubana uma emenda que criava benefícios econômicos para empresas americanas. Ficou previsto na lei máxima de Cuba o direito dos Estados Unidos de invadir Cuba a qualquer momento em que seus interesses econômicos fossem ameaçados. Para Calder, a chamada Emenda Platt, na prática, manteve Cuba como um protetorado dos Estados Unidos. Situação que só seria revertida em 1933.
Efeito colateral do crescente interesse americano na ilha, a chegada da máfia também marcaria o destino de Cuba. A data emblemática dessa história é 16 de janeiro de 1920, quando foi assinada a emenda constitucional conhecida como Lei Seca, que proibiu a fabricação, varejo, transporte, importação ou exportação de bebida alcoólica nos Estados Unidos. “Cuba, por sua proximidade e pela fragilidade das instituições recém-criadas, foi envolvida nos negócios dos grupos mafiosos americanos que usavam a ilha para armazenamento e como esconderijo”, diz Enrique Cirules, autor de um livro sobre o tema, El Imperio de la Habana. O ano de 1933, em que foi suspensa a Lei Seca, coincidentemente marca o golpe de estado em Cuba, que levou o sargento e estenógrafo Fulgêncio Batista ao poder. Feito coronel e depois se autopromoveria a general, Batista se manteria no comando da política cubana pelos 25 anos seguintes.
Havana era uma cidade alegre, cheia de vida e de oportunidades para se ganhar dinheiro. Nos anos 1950, economicamente falando, Cuba tinha o terceiro maior PIB – Produto Interno Bruto, entre os 20 países latino-americanos. Porém havia um grande desequilíbrio entre a área rural e a urbana: enquanto as cidades cresciam oferecendo infraestrutura inédita no país, como água encanada e linhas telefônicas, o campo estava em crise com a decadência do modelo baseado nos grandes latifúndios, com a queda de produção e o aparecimento de bolsões de miséria absoluta e fome. Estima-se que 20 mil prostitutas trabalhavam nas ruas e cabarés de Havana, sendo a “indústria da prostituição” a mais rentável da ilha, ultrapassando a produção de frutas e tabaco. Em 1954, um médico em Havana ganhava 90 pesos por mês. No mesmo período, um “crupiê” recebia 1500 pesos, fora as gorjetas. Cuba ocupava o primeiro lugar na América Latina e no Caribe em número de aparelhos de televisão, com 150 mil televisores, e tinha quatro emissoras de TV. Era recordista, ainda, em número de salas de cinema e estações de rádio por habitante. Havana era a cidade onde mais se praticavam abortos na América. A terceira do mundo. No campo, 42% das pessoas eram analfabetas.
Ao subverter as regras do jogo democrático, Batista interrompera as aspirações políticas de outro jovem líder estudantil que, em 1952, se preparava para concorrer a uma vaga no Congresso. Era o recém-formado advogado Fidel Castro, filho de Angel Castro. Depois do golpe, ele e outros jovens, incluindo seu irmão mais novo, Raul, passaram “a defender ações de guerrilha para desestabilizar o governo”. Em julho de 1953, o grupo atacou a guarnição militar em Santiago conhecida como La Moncada. Na ação, alguns dos jovens foram mortos e Fidel e Raul, capturados. Julgados e condenados a 15 anos de prisão, acabaram libertados, em 1955, por interferência de religiosos e políticos. Livre, Fidel publicou A História me Absolverá, conjunto de textos escritos na prisão que se tornou seu manifesto político. No início de 1956, desiludido com os rumos que as alianças partidárias tomavam em Cuba, ele optou pela clandestinidade. Mais uma vez ao lado do irmão, fugiu para o México. Pouca gente em Cuba soube quando voltaram, em novembro daquele ano, escondidos em um pequeno barco de passeio para iniciar uma guerra contra Batista. Dos 80 membros, apenas 15 sobreviveram aos primeiros combates com o exército. O grupo se refugiou na selva e mudou de planos: desistiu da insurreição imediata contra o governo e iniciou “uma longa e lenta luta de guerrilha marxista”.
Quando o tema é economia, uma das questões mais candentes na transição para uma Cuba pós-Fidel é a sobrevivência ou não do bloqueio americano, que já dura quase 45 anos. O embargo ocorreu durante os anos da chamada Guerra Fria, compensado pela ajuda soviética e pelo intercâmbio com o bloco socialista. Após o fim da União Soviética, em 1992, a economia cubana entrou em colapso e até setores sagrados para o corolário socialista vêm sofrendo com a falta de recursos. De lá para cá, os gastos do governo com educação, por exemplo, foram reduzidos em 35% e as matrículas nas universidades caíram pela metade. “Nos últimos 20 anos, o desafio cubano tem sido abrir-se para a economia mundial sem abrir mão das conquistas da revolução”, diz Holly Ackerman. O fim do bloqueio ajudaria? “É claro que sim. Pelo menos teríamos a exata noção da saúde e do tamanho da economia cubana. Porém, além do fim do bloqueio, outras questões precisarão ser discutidas. Cuba admitiria se adequar aos organismos internacionais que regem o comércio? Isso sem falar em conviver com imprensa, partidos políticos e eleições livres, antigas reivindicações da comunidade internacional que jamais tiveram aderência junto ao governo de Fidel.”
A historiadora brasileira e biógrafa de Fidel Castro, Claudia Furiati acredita que a sucessão já começou há algum tempo. “Um afastamento definitivo vai gerar um grande sentimento de perda no povo cubano, mas acho que eles já estavam sendo preparados para isso”, diz Claudia. Ela acredita, ainda, numa mudança nas relações de Cuba com os americanos. “Deve haver maior diálogo, até porque a direita cubana no exílio [americano] tem perdido seu poder de influência, haja vista as últimas eleições legislativas nos Estados Unidos. Tenho a impressão, afirma, de que a distensão pode chegar à revisão, pelo menos parcial, do embargo comercial.” Já o teólogo Frei Betto, que esteve em Cuba para o aniversário de Fidel – comemorado com atraso em dezembro -, concorda que tudo indica que ele já começou a expressar seu testamento político. “A maioria dos membros do Partido Comunista tem de 40 a 50 anos e cada vez mais jovens ocupam funções estratégicas. Como 70% da população nasceu depois de 1959, não há indícios de anseio pela volta ao capitalismo”, afirma. Para Frei Betto, Cuba não quer como futuro o presente de tantas nações latino-americanas, onde a opulência convive com o narcotráfico, a miséria, o desemprego e o sucateamento da saúde e da educação.
O termo Revolução Cubana também se refere à implantação em série de programas sociais e econômicos do novo governo. O apoio soviético depois do movimento armado enfatizou seu caráter anticapitalista e também antiamericano para posteriormente alinhar o país com o chamado bloco socialista. Mas isso só ocorre tempos depois do advento da revolução, não sendo o seu foco inicial. O Movimento 26 de Julho, liderado por Fidel Castro a partir de Sierra Maestra, em Cuba, a 1º de janeiro de 1959, foi o responsável pela queda da ditadura de Fulgêncio Batista, ali implantada desde 1952. Com Fidel nasceu o socialismo responsável por mudanças profundas como a reforma agrária, o fusilamiento dos adeptos de Fulgêncio e a nacionalização das empresas. Com a conquista da ilha, a União Soviética, passou a dar respaldo a Fidel, pelo caráter antiamericano e anticapitalista que o novo sistema político assumia.
Ora, a atividade política se define segundo Max Weber de três formas, primeiro necessita-se de um território delimitado, mesmo que possa ocorrer variáveis, o território particulariza agrupamento, sem esse agrupamento não se pode falar em atividade política; segundo, os indivíduos que atuam no interior desse território acabam se comportando de acordo com o território em que estão inseridos; em terceiro lugar “o meio da política é força, eventualmente a violência”. E o domínio (herrschaft) está no âmago do político é antes de tudo um agrupamento de domínio. Pode-se, pois, definir a política como a atividade que reivindica para a autoridade instalada em um território; a) o direito de domínio, com a possibilidade de usar, b) em caso de necessidade a força ou a violência, quer para manter a ordem interna e as oportunidades que dela decorrem, e c) quer para defender a comunidade contra ameaças externas. A atividade política consiste, em suma, entravar, deslocar ou perturbar as relações de domínio.
Além disso, Max Weber (1958, 1983, 1987) concebe esse processo de adaptação como “racionalização” e, em 1904/05 afirmava o seguinte: “Ninguém sabe ainda a quem caberá no futuro viver nessa prisão [o capitalismo vencedor, USB] ou se, no fim desse tremendo desenvolvimento, não surgirão profetas inteiramente novos, ou um vigoroso renascimento de velhos pensamentos e ideias, ou ainda se nenhuma dessas duas – a eventualidade de uma petrificação mecanizada caracterizada por esta convulsora espécie de auto-justificação” (sich-wichtig nehmen). O fato é que estes últimos homens poderiam ser designados por Weber, como “especialistas sem espírito, sensualistas sem coração, nulidades que imaginam ter atingido um nível de civilização nunca antes alcançado”.
Um dos motivos pelos quais Fidel se manteve durante tanto tempo no poder é a sua figura profundamente carismática. Deve entender-se por carisma “a qualidade, que passa por extraordinária, de uma personalidade, considerada por sua exaltação intrínseca como possuidora de forças sobrenaturais ou sobre-humanas”. Ou, ao menos especificamente, extracotidianas e não exequíveis a qualquer outro. Em sua origem, o carismático tem um conhecimento mágico: – são os profetas, feiticeiros, árbitros, chefes de caçada ou caudilhos militares. Surgem como enviados de Deus ou como um protótipo humano exemplar. E, consequentemente, como chefe, caudilho, guia ou líder. A relação de orgulho político, a honra, o poderio e a grandeza dá-se a entender pela compreensão de prestígio. Onde todo o poderio político tende a elencar em suas ações. O imperialismo segundo Weber, “exprime ideias de prestígio”. Logo, “A nação é antes de tudo a expressão de uma potência que tem por base o pathos do prestígio”. O prestígio é senão o espírito particular de cada nação.
Nos últimos anos, a conservadora e politicamente incorreta, para utilizar expressão em voga, imprensa brasileira e os trabalhos acadêmicos não têm poupado munição para atacar intermitentemente Fidel Castro, a revolução Cubana e suas conquistas políticas e sociais, inclusive do ponto de vista da diversidade cultural (cf.   ).                      A informação que nos chega diariamente via jornais, televisão, revistas e teses defendidas nas universidades, sempre objetiva pintar, para Cuba, um cenário pouco pior do que o do inferno no imaginário medieval. A palavra de ordem contra Fidel e a ilha se expressa da seguinte forma: “O ditador cubano Fidel Castro…”. E a ideologização do discurso político decorre dos chamados “âncoras” que são os apresentadores de um telejornal. Cabe a ele narrar, anunciar ou comentar as notícias que serão exibidas, ou chamar repórteres que entram ao vivo na programação. Diz-se que o termo “âncora”, neste sentido, teria sido aplicado pela primeira vez em 1952, para se referir ao trabalho de Walter Cronkite durante a convenção pré-eleitoral do Partido Democrata nos EUA.
No Brasil, ficaram famosos Carlos Monforte, Gontijo Filho, Heron Domingues, Hilton Gomes, Cid Moreira, Sérgio Chapelin, Eliakim Araújo, Leda Nagle, Celso Freitas, Leila Cordeiro, Chico Pinheiro, Marcos Hummel, Paulo Henrique Amorim e Boris Casoy, William Bonner e Fátima Bernardes à frente do famigerado Jornal Nacional, William Waack entre outros. Das novas gerações, destacam-se Ana Paula Padrão, Adriana Araújo, Carlos Nascimento, Christiane Pelajo, Hermano Henning, Sandra Annenberg, Luciana Liviero, Janine Borba, Carla Cecato, Lilian Witte Fibe, Ticiana Villas-Bôas, Thalita Oliveira, Nadja Haddad, Eduardo Ribeiro e Mariana Godoy. Mas dois são fascistas, de “carteirinha”, se simplificadamente entendemos como anticomunistas que são os próceres Boris Casoy e William Bonner. Infelizmente muito se fala sobre Cuba, muito se escreve sobre Cuba, muito se condena e se exalta Cuba, mas muito, muito poucos se dedicam a estudar a fundo a história de Cuba. Esses dois mereceriam passar uma colônia de férias em Cuba… na colheita da cana-de-açúcar.
Na contramão dessa tendência, A Revolução Cubana e a Questão Nacional (1868-1963), tese de Doutorado defendida no Departamento de História Econômica da USP e lançado em livro neste agosto de 2007, traz ao leitor um estudo profundo e apaixonado dos principais acontecimentos históricos que marcaram a Ilha por quase 100 anos anteriores à revolução. Com riqueza de detalhes e descritibilidade são narrados no livro fatos ignorados pelo chamado “grande público”, tais como a Primeira e a Segunda Guerras de Independência, as constantes intervenções militares e políticas dos EUA, a contradição crescente entre a burguesia açucareira – tão subserviente ao capital estrangeiro – e os trabalhadores cubanos – tão ávidos por liberdade.
Além da abundância de informação sobre a História da Ilha, algo difícil de encontrar na bibliografia até hoje publicada no Brasil, salvo honrosas exceções, outro elemento que torna o livro precioso para o leitor comum é a forma como o historiador relaciona os principais episódios históricos de Cuba com a trajetória de vários de seus heróis. Impossível não se emocionar com a tenacidade do poeta José Martí que, apesar do corpo franzino, fez questão de lutar no campo de batalha da Segunda Guerra de Independência; ou com a morte de Antonio Guiteras, assassinado após uma covarde delação; ou ainda com os sempre eloquentes discursos de Fidel Castro e sua brava atuação frente ao grupo de guerrilheiros que até hoje encanta os jovens revolucionários de toda a América Latina. No livro, que pode ser comparado a um verdadeiro poema épico, o herói individualizado aos poucos cede lugar ao povo cubano que, em Playa Girón e nas Brigadas de Alfabetização se transforma, como um todo, no maior e mais honrado herói de sua pátria. Pela coragem de se colocar ao lado de Cuba – e não de Miami – neste momento crucial da história da Ilha, pela riqueza de detalhes, pela profundidade da pesquisa e pela linguagem elaborada, porém acessível, o livro A Revolução Cubana e a Questão Nacional (1868-1963), sem dúvida, é obra de leitura obrigatória para todos os que se interessem por aquela fascinante Ilha do Caribe.
Bibliografia geral consultada
Fidel Castro – Nada Podra Detener la Marcha de la Historia. Entrevista Concedida a Jeffrey Elliot y Mervin Dymally sobre Múltiples Temas Económicos, Políticos e Históricos. La Habana: Editora Política, 1985a; Idem, La Cancelación de la Deuda Externa y el Nuevo Orden Economico Internacional como unica Alternativa Verdadera. Otros Asuntos de Interes Politico e Histórico. Texto completo de la entrevista concedida al periódico Excelsior de Mexico. La Habana? Editora Política, 1985b; ALENCASTRO, Luiz Felipe de, Le Commerce du Vivants – traites d` esclaves et ´pax lusitana` dans L` Atlantique Sud. Tese de Doutorado. Paris: Université de Paris X, 1986; ARBEX JÚNIOR, José, A Segunda Morte de Lenin – o colapso do império vermelho. 1ª edição. São Paulo: Folha de São Paulo, 1991; Idem, Narcotráfico: Um Jogo de Poder nas Américas. São Paulo: Moderna, 1993a; Idem, A outra América – apogeu, crise e decadência dos Estados Unidos. Moderna, 1993b; BARRAT-BROWN, Michael, A Economia Política do Imperialismo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978; BELTRÁN, Luis Ramiro & CARDONA, Elizabeth Fox de, Estados Unidos en los Medios de America Latina. México: Editorial Nueva Imagen, 1980; BETTELHEIM, Charles, La Transition vers L’économie Socialiste. Paris: François Maspero, 1968; Idem, A Luta de Classes na União Soviética. Primeiro período (1917-1923). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976; CARO, Efrain Ruiz, La Tercera Colonización. El Poder de la Mídia en la Era Tecnológica. Lima: Ediciones la Voz, 1990; CHOMSKY, Noam, USA: Mito, Realidad, Acracia. Barcelona: Editorial Ariel, 1978; FAULKNER, H. U., História Económica de los Estados Unidos. Buenos Aires: Editorial Nova, 1956; GIDDENS, Anthony, As Consequências da Modernidade. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1991; HABERMAS, Jürgen, “What Does Socialism Mean Today?  The Rectfying Revolution and the Need for New Thinking on the Left”. In: New Left Review, number 183, september/october 1990a; IANNI, Octávio, “A Política Mudou de Lugar”. In: Desafios da Globalização/orgs. Ladislau Dowbor e outros. Petrópolis (RJ): Vozes, 1997ª; Idem, “O Socialismo na Era do Globalismo”. Texto escrito e falado no XXI Congresso da ALAS – Associación Latinoamericana de Sociología. São Paulo: USP, 31 de agosto a 5 de setembro de 1997b; Idem, A sociedade global. 5ª edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997c entre outros.