Pato, Emerson e Romarinho, do Corinthians: nada justifica agressões (Crédito: Rodrigo Coca / Agência Corinthians)
“Estão esperando alguém morrer para tomar alguma atitude. Aí, vão correr atrás e será muito tarde. Vai ter um jogador morto e uma família abandonada”, do ex-meia Rincón, ao UOL
Existe um ciclo vicioso que alimenta e multiplica o poder e a personalidade violenta das torcidas organizadas, tal qual a água jogada sobre os Gremlins – aqueles bichinhos do cinema nos anos 80.
Há pelo menos três décadas convivemos com casos trágicos protagonizados por torcedores organizados. No início, forma mortes e membros de corpos amputados nas arquibancadas e arredores dos estádios. Depois, a violência se espalhou pela cidade, em especial nas vias servidas pelo transporte público a caminho dos jogos.
Enquanto isso, tais torcedores iam abrindo ainda mais suas asas e se sentindo no direito de invadir o local de trabalho (tra-ba-lho) de jogadores, comissão técnica, dirigentes e imprensa. Isso sem falar em emboscadas nas rodovias.
Ao longo dos meus quase 15 anos de cobertura esportiva, perdi a conta de quantas vezes presenciei ou ouvi relatos de colegas a respeito de invasões violentas a CTs, algumas delas com agressões e depredações contra jogadores e demais profissionais.
Como bem diz o inteligente e esclarecido Rincón na frase lá em cima, não há por que duvidar que, se tal ciclo não for quebrado, um jogador corre, sim, risco de perder a integridade física ou até mesmo a vida perante tanta impunidade.
O fato é que não se pode esperar de dirigentes ou mesmo do poder público a força para quebrar este ciclo. Ele deve ser quebrado pelos jogadores. A força está com eles.
Em sua maioria oriundos das periferias, com carências educacionais enormes, os atletas demoraram décadas para começar a perceber que precisam se desvencilhar do jogo de poder que mantém o futebol brasileiro nas trevas.
Protestos, como os manobrados ano passado pelo Bom Senso F.C., foram um bom aperitivo. Ainda que motivados por outra luta.
Agora é hora de um passo mais ousado. É hora de parar. É hora de greve. É hora de deixar o brasileiro, o dirigente, a emissora que detém os direitos de transmitir os jogos, o patrocinador, a ver navios. O vazio provocado num domingo à tarde precisa ser preenchido por debates e discussões que mudem o futebol brasileiro para melhor.
No foco das torcidas organizadas, é preciso dissociá-las do ambiente esportivo e tratar tudo que elas fazem à margem da lei como crime e transgressão. É preciso punir indivíduos e se discutir um código capaz de fazer desaparecer de vez os criminosos dos estádios – tal qual foi feito com sucesso na Europa, em especial na Inglaterra.
Se por lá houve vontade política e da cartolagem, repito: não se deve esperar o mesmo por aqui. No Brasil, como sempre, a bola é dos jogadores. E, neste momento, eles devem guardá-la nos vestiários e cruzar os braços. De Carta Capital