AS MÃOS DOS POETAS


A eternidade reside nos dedos dos poetas.
Nas mãos fracas o invisível é tocado,
A morte, as tragédias humanas dissipam-se pelo pensar, 
Quando dedos operários da arte explanam amor!
Na quietude das noites, abrigada por Eros,
Em tavernas toscas a poesia clama sempre pela amada ausente,
E as mãos febris, cheias de prazer levantam taças,
Escrevem em papéis amassados  pelo dias 
A febre louca da paixão distante.
Como são ágeis as mãos dos poetas!
Como trazem a História para dentro dos sonhos esquecidos!
E se a inspiração falta, elas levantam nos brindes a sensação perdida
De reconstruir na mente um novo canto de amor a vida.
As mãos dos poetas buscam Alfonsina Storni nas águas geladas.
Separam do corpo algas e corais,
Criando um beijo ardente de vida, ressuscitando-a do mar
Para cantar as paixões proibidas nas noites quentes de luar.
Nas mãos dos poetas Florbela Espança ainda beija o seu amado,
Violeta Parra canta pela América em opressão,
E Vinicíus sentindo o ar morno de Ipanema 
Ainda vê o bailar de um corpo a passar, sempre a caminho do mar.
Como são agéis as mãos dos poetas!
Agéis como o tempo que passa!
Infinitas como a vida dos amantes,
Que não morrem: refazem-se a cada dia,
Quando nas estantes esquecidas outras mãos abrem páginas,
Soltam gritos presos, deixando que o ontem antecipe o futuro
E o hoje nos permita que ainda é preciso sonhar,
Que ainda existem amores a se conquistar!
Nas mãos dos poetas a eternidade...
Quem me contradiz essa verdade?
Em que tempo? 
E quando?

Autor: PAULO MACHADO
Historiador
Atualmente coordenador
Ciretran Ilhéus