O “NOVO” CONGRESSO

MARIO SCHNEIDER

Mario Schneider é estudante universitário e líder da Juventude do PT de Ilhéus.
Mario Schneider é estudante universitário e líder da Juventude do PT de Ilhéus.

O povo que “foi pra rua” em 2013, parece não ter sido maioria durante as eleições deste ano. Ou foram às ruas mais preocupados em eleger seus representantes no executivo, e esqueceram que quem os representa fica no Congresso Nacional.

Os agrupamentos de deputados que são oriundos dos movimentos populares, mais próximos das demandas da população carente, reduziu! A bancada sindical também teve uma redução bastante acentuada (de 83 para 46, isso sem contar os chamados “pelegos”), e isso se deve em grande parte aos financiadores de campanha, cujo financiamento só aumentou.

E a galera dos sindicatos, exceto o representante da Bahia, não têm o hábito de procurar empresários para financiar a campanha. Por isso, os sindicalistas ficaram prejudicados, e a bancada empresarial, que já se autofinancia, cresceu, e muito.

Paralelo ao dos empresários, a bancada dos evangélicos ganhou corpo monstruosamente, bem como os representantes militares, que são da turma do “bandido bom é bandido morto”, e da galera da bala. Tais, vale lembrar, são muito interessados em que o Brasil participe de uma ou duas guerrinhas, para ajudar a pagar o financiamento da indústria armamentista, que entra no país camuflado de ONG’s e outras empresas.

Quando houve a tentativa de terceirização do empregado nas indústrias e comércios, ou seja, da substituição do empregado por empresas de prestação de serviços, o governo Lula vetou. Mas agora, os representantes empresariais, que antes não conseguiram aprovar projetos flexibilizando direitos trabalhistas, terão número para aprovar no Congresso. Dilma lá, veta. Aécio, não.

E sobre a reforma política? Como fazê-la nos moldes que o país precisa, com um congresso que antes eram 22 partidos e agora são 28? Algo como o fim das coligações dos partidos, precisa de alteração do texto na constituição, ou seja passa pelo congresso, que terá que fazer uma PEC. Mas vejam, esses partidos que entraram agora, pequenos e médios, só obtiveram tal bancada porque se coligaram. Não vão ser contra o fim da coligação. Não vão concordar. Esses pequenos e médios partidos podem fazer blocos, com capacidade de impedir que haja reforma.

A telecomunicação e o empresariado desse segmento ampliou seus quadros na futura Legislatura. Quem quer que seja o presidente, ou a presidenta, tem a obrigação moral de enfrentar esse assunto. Não é possível que todos os setores da economia sejam regulados, e esse setor da mídia não seja. Tem que ter liberdade plena para publicar, mas tem que responder pelo conteúdo, ter responsabilidade por aquilo que publica.

Então nós vamos ter, na Câmara, muitas dores de cabeça. E isso fará com que, independente de quem seja o próximo presidente, tenha que dialogar com esses seguimentos (abrir mão, ceder em parte ou enfrentá-los). É uma tarefa muito difícil. Requer do Governo muita habilidade. Vai ter que fazer, ou muita concessão, ou correrá o risco de sofrer um golpe, portanto, vai requerer d@ president@ muita negociação.

E quanto ao povo, uma só certeza, não pode sair das ruas, não pode abaixar a cabeça e deve sim, buscar sua politização e participar ativamente da política do nosso país, mais especificamente das nossas cidades, através dos conselhos populares, acompanhando o que acontece nas câmaras de vereadores, nas associações dos bairros e se organizando para lutar por seus interesses. Não é possível que tenhamos tanta indignação guardada para demonstrar na fila do pão, mas sequer tenhamos capacidade de transformar essa indignação em ação concreta, ou denúncias eficazes junto aos órgãos fiscalizadores e Ministérios Públicos.

Espero profundamente que o povo brasileiro possa, para além dessas eleições presidenciais, ser a própria mudança que tanto se fala nas redes sociais, pois sendo nós essa mudança, nunca mais colocaremos nossas esperanças e responsabilidades somente nos outros.

Enfim, cumprir o mínimo de nosso dever como cidadãos. Até porque, a vida continua depois que os santinhos forem reciclados e aquelas grandes casas de comitês eleitorais em bairros nobres, voltarem a ser garagens de carros de luxo
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É… A vida não tá fácil, não.

Postado originalmente no Ilhéus24h.