A inundação dos meios de comunicação com frases moralistas de efeito
sobre o julgamento da Ação Penal 470 e certas reações que essa campanha
provoca na sociedade são fenômenos que serão estudos por séculos. O
historiador do futuro se espantará com a hipocrisia que fez hordas de
picaretas saírem da toca batendo no peito.
Há empresário que se gaba de sonegar, que só manda funcionários
embora por justa causa para não pagar direitos trabalhistas da demissão e
depois vai brigar na justiça, ou que passa noites inteiras em
prostíbulos enquanto e diz à família que estava “trabalhando”, ou que
corrompe funcionários de órgãos públicos para obter aprovações de seu
interesse. Tudo isso enquanto lidera a discurseira contra “mensaleiros”
em seu grupo social e profissional.
Adultos e até gente madura forjam perfis falsos nas redes sociais ou
se escondem atrás de pseudônimos para ficar atacando a honra de pessoas
que se posicionam contra a farsa que a mídia partidarizada e golpista
está promovendo em torno do julgamento do “mensalão” de um partido
enquanto ignora processos iguais contra outros, muitas vezes mais
graves.
Não é à toa que o novo “herói” da mídia tucana, o ministro do STF
Joaquim Barbosa, que relatou o processo do mensalão, por ser um homem
sério comentou essa hipocrisia dizendo que a mesma mídia que vibra com a
sua suposta intenção condenatória nunca deu bola para o mensalão
tucano, tão grave quanto o petista.
Mesmo que todos os acusados do único partido em que ser “mensaleiro” é
considerado crime fossem condenados, mesmo que todos os acusados na
Ação Penal 470 fossem culpados – apesar de que há culpados e há
inocentes –, nada justificaria o estupro do princípio constitucional da
presunção de inocência que conspurca a opinião publicada.
Há até “jornalista” questionando a contratação de advogados pelos
“mensaleiros”. Alguns parecem achar uma afronta que um réu “petralha” se
defenda.
Fossem investigar os mais veementes “indignados” com “mensaleiros”
(do PT e só do PT, é claro), a descoberta de como levam as suas vidas
deixaria o país chocado. Há até apontador de jogo do bicho fazendo
longos discursos sobre ética e contra a “corrupção petralha”.
Alguns dirão que é muito pedir coerência e vergonha na cara a pessoas
que mergulham de cabeça em uma campanha de linchamento que nada tem que
ver com pendores éticos, mas com política partidária e com espírito de
torcida futebolística, mas que não pautam suas vidas por nada parecido
com “ética”. Mas será muito pedir que olhem seus rabos?
Figura nesta página frase do jornalista e escritor norte-americano
Joseph Pulitzer, que deu nome ao mais cobiçado prêmio de jornalismo do
mundo: “
Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”. Ele disse a frase há um século e ela está cada dia mais atual. Postagem do
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