postagem de http://colunas.revistaepoca.globo.com
O Brasil produz cerca de 4% do cacau do mundo. Na região cacaueira da Mata Atlântica da Bahia, onde 80% do cacau brasileiro é produzido, foi registrado recorde de concentração de biodiversidade no Planeta pelo New York Botanical Garden. São 476 diferentes espécies vegetais por hectare. Quanto essa riqueza natural pode valer para a indústria dos econegócios que floresce no mundo? Como políticas públicas podem atuar nesse cenário?
Governos estão investindo em programas de incentivo à rotulagem ambiental, levando o mercado consumidor a privilegiar os produtos com cuidados ambientais. O governo alemão lançou o programa de rotulagem ambiental, chamado de Blue Engel, para estimular a ecoeficiência nas empresas. O Canadá lançou o Environmental Choice, logo seguido pelo Japão, com o Ecomark; pela Noruega, Suécia e Finlândia, com o Nordic Swan, e pelos EUA, com o Green Seal. Hoje, mais de duas dezenas de países conduzem programas de rotulagem ambiental, formando o GEN (Global Ecolabelling Network).
O chocolate da Mata Atlântica é um gostoso convite e uma porta de entrada para outros negócios sustentáveis da economia verde, foco da Rio+20. Produzido com alto teor de cacau, ecorrotulado, é um veículo para exibir a vocação da floresta de chocolate para a biotecnologia, o turismo e a preservação da biodiversidade.
Floresta de chocolate é a região cacaueira da Bahia. Ela ganhou esse apelido do projeto Fazenda de Chocolate, desenvolvido pela Universidade Livre da Mata Atlântica, com apoio do Worldwatch Institute (WWI). A ideia é mostrar como a economia do chocolate, que movimenta um PIB global de cerca de US$ 1 trilhões, pode ajudar a resgatar a floresta. Foi tema de capa da revista World Watch e do livro “Venture Capitalism for a Tropical Forest, the case of the Chocolate Forest of Brazil”, publicado pelo WWI.
Abrangendo uma área de 90 mil km2, com 2,5 milhões de habitantes (3 vezes o tamanho da Bélgica), a região cacaueira da Bahia, tem 300 quilômetros de costa oceânica, rica bacia hidrográfica e clima tropical. É conhecida no mundo pela obra de Jorge Amado que volta agora as telas da Globo através da minisérie “Gabriela”. Essa região conta com infra-estrutura rodoviária, porto e aeroporto. Começa a atrair os interesses da industria turística. Ter uma segunda casa em área tropical biodiversa é uma nova tendência. A biodiversidade preservada é um novo luxo cobiçado. Quando tem cheiro e sabor de chocolate, vale mais ainda.
O ex-cacauicultor Diego Badaró, novo chocolateiro da Mata Atlântica, adotando o conceito, participou doSalon du Chocolate de Paris com stand intitulado “Floresta de Chocolate”. O chocolate da Bahia foi destaque entre chocolateiros e a imprensa internacional. Em parceria com o chocolatier francês Françoise Pralus, Badaró lançou em Paris chocolate com seu nome e embalagem com informações sobre o local da Fazenda de Chocolate. Os ex-cacauicultores estão descobrindo agora o verdadeiro ouro guardado pelo fruto do cacau e trazem em 2012 o Salon du Chocolate de Paris para a Bahia.
Os proprietários das novas “Fazendas de Chocolate” capacitam-se para produzir o chocolate (e cosméticos) de alta qualidade, transformando as suas áreas em opção para segmentos industriais interessados na preservação, recebendo mestres chocolateiros europeus que já descobriram o novo filão. Turistas podem produzir o seu proprio chocolate nas fazendas de cacau, massagear-se e tomar banho em ofurôs de chocolate.
Membros da Cooperativa Cabruca e da Associação de Produtores de Cacau Fino, de Ilhéus, investem no certificado de origem controlada, que permite identificar, via Google Earth e GPS, a fazenda onde o cacau é cultivado. Esses novos empresários do chocolate sabem que a velha cultura econômica que comercializa o cacau em sacas recheadas de riqueza e ignorância, a R$ 3 ou R$ 4 o quilo (enquanto o mesmo quilo de chocolate caseiro de Ilhéus é vendido a R$ 120), nos aeroportos – agoniza.
O cacau é como a uva para o vinho, pode atender ao sabor popular e ao sofisticado. Instituições locais como a Floresta Viva, que trabalham com populações nativas capacitando-as para entender o valor dos ativos ambientais da floresta, antes chamados de “mato”, unem os novos chocolateiros a empreendimentos hoteleiros e imobiliários, para ajudar a atrair recursos da industria, agregando adicionalidades do hot-spot (áreas de alta concentração de biodiversidades no planeta em alto risco de extinção) do chocolate.
(Eduardo Athayde, diretor do Worldwatch Institute no Brasil)