Uma nova era começou. O antropoceno. O termo foi criado pelo ganhador do Prêmio Nobel de Química (1995) Prof. Paul Jozef Crutzen em 2000 quando alertou sobre os efeitos do homem sobre o nosso planeta. Em seu site pessoal ele aborda o tema
Etimologia
Vem do grego, ἄνθρωπος, anthropos, “homem” e καινός, kainos, “novo”. Em 1999, o entomólogo Michael Samways usou o termo Homogeneceno (homo, mesmo; gene, família; eceno, novo. De acordo com o próprio Paul Crutzen, num artigo para a revista Nature, o geólogo e paleontólogo italiano AntonioStoppani usou o termo “Era Antropozóica”. Eu considero que “Era Antropozóica” seja demasiadamente precipitado, pois seria o equivalente eras como a Mesozóica ou Paleozóica com durações de milhões de anos.
Eón, Era, Período,Época e Idade
Antigamente quando não se acreditava na “Terra Velha” o mundo ocidental acreditava na “Terra Nova”. Os hindus eram umas das pouquíssimas excessões. Eles calcularam a idade do Universo em 8,8 bilhões de anos (Carl Sagan, Bilhões e Bilhões). Enquanto isso o arcebispo anglicano de Armagath James Ussher calculou que a Terra teria sido criada em 23 de outubro de 4004 AC ou há pouco mais de seis mil anos.
Com o tempo os cientistas foram percebendo que a Terra é muito mais antiga do que se pensava e a sua composição nos conta histórias fantásticas e intermináveis. E para organizar isso foi necessário criar a Escala de Tempo Geológico. A primeira pessoa a organizá-la como conhecemos hoje foi o geólogo Arthur Holmes ao publicá-la em 1913. Atualmente a escala de tempo geológico é dividido em Eón, Era, Período, Época e Idade. Dentre dessas a maior subdivisão é Eón.
O Antropoceno indica que seria uma época posterior ao Holoceno. Uma vez que a existência humana seria demasiado curta para considerarmos que estamos numa Era, que se chamaria Antropozóica. Era geralmente dura dezenas de milhões de anos ou mesmo centenas. Basta comparar com a famosíssima Era Mesozóica, quando viveram os dinossauros.
Um dos problemas com o Antropoceno é que ele sucederia o Holoceno que é relativamente curto, 11,7 mil anos. Mas seria justo, então, substituí-lo pelo Antropoceno? Bem, talvez seja conveniente. No site Ceticismo.Net há um artigo sobre o Antropoceno e descreve bem quais os critérios para definir uma era geológica:
•Mudança na composição atmosférica, com consequente mudança nas plantas.•Mudança na distribuição e diversidade das espécies, com consequências futuras no registro fóssil.
•Mudança na acidez dos oceanos, com alteração nos depósitos minerais nas profundezas.
Já estamos passando por tudo isso há tempos. Mas desde quando? Muitos falam que foi desde o início da Revolução Industrial, outros desde o início da prática da agricultura.
O início do Antropoceno
A Revolução Industrial começou no Reino Unido no Século XVIII e se espalhou para os outros países do mundo no Século XIX. Nessa começou a exploração indiscriminada de recursos naturais e a poluição excessiva como conhecemos. De fato, o planeta nunca foi mais o mesmo depois da Revolução Industrial. Começaram as escavações de minas, desmatamento de florestas nos trópicos e grandes construções começaram a brotar, principalmente estradas de ferro e rodovias. O nosso planeta mudou com a Revolução Industrial, mas não foi aqui o começo.
O homem começou a mudar o planeta com algo muito mais simples do que a Revolução Industrial. A agricultura. Para a prática da agricultura é necessário modificar o solo de toda a área de cultivo, mudando assim a distribuição geográfica da vegetação e da fauna que tem de fugir do lugar. Mesmo parando de usar a área a Natureza ainda levará anos para fazer o lugar a voltar como era antes. Mnajdra, em Malta
Megaconstruções também nunca foram novidades. Desde a antigüidade eram construídos megalitos que mantém-se imponente após milênios. Muitos desses megalitos devem durar dezenas de milênios e alteraram consideravelmente a paisagem local. Vendo o efeito da agricultura (e da pecuária também) e das construções megalíticas diria seguramente que o Período Antropoceno iniciou-se na antigüidade, e de lá para cá os efeitos aumentaram consideravelmente.
Conclusões
Antropoceno para mim é muito mais que reconhecido. Os efeitos são inegáveis: construções, agricultura, extrativismo, produção e consumo de energia. Tudo isso altera o clima, extingue certas espécies de animais, prolifera outras, muda o relevo, altera distribuição geográfica de animais e plantas e muda a paisagem.
O Antropoceno chegou. Ainda que nem todos os cientistas reconheçam.
Fontes:
National Geographic: Começa o Antropoceno- a Era do Homem
Wikipedia: Anthropocene (em inglês)
Antropoceno
Por várias vezes me vi interessado por filmes pós- apocalípticos, em que humanos têm que lidar com os escombros de sua interferência no planeta Terra, buscando a sobrevivência às custas uns dos outros. Alguns exemplos seriam a trilogia “Mad Max”, iniciada em 1979 e que teve Mel Gibson como astro principal; a série “Exterminador do Futuro”, que teve seu primeiro episódio em 1984, capitaneada por Arnold Schwarzenegger; e o mais recente – e por mim ainda não vista – “O Livro de Eli” (2010), tendo como protagonista Denzel Washington.
O que chama atenção em cada um destes é que existe uma perspectiva tremendamente negativa do impacto da humanidade sobre o planeta. Na comunidade científica esta Era de prevalência do homem vem sendo chamada de Antropoceno. Mesmo não sendo ainda uma unanimidade – e isto fica claro na reportagem da National Geographic Brasil (NGB) – edição Março/2011 – págs. 62-83 – tal nomenclatura ou honra a ser dada ao Homo Sapiens fica difícil ignorar que nós efetivamente estamos influenciando o meio que nos cerca.
O que me questiono é se as teorias cataclísmicas estão realmente mais próximas da verdade ou se ainda há tempo para revertermos um processo maléfico de deteriorização do ambiente em que vivemos. A reportagem da NGB tem um tom negativo, até mesmo pelas fotos nelas presentes – uma cidade árabe com seus arranha-céus em pleno deserto; uma praia da Toscana gerada a partir da poluição da indústria química circunvizinha; postos de exploração de petróleo na Califórnia, etc. Quando olhamos de uma perspectiva macro, parece-nos difícil deter tal tendência. Mas e se olhamos em termos micro, estaríamos cada um de nós tentando realmente paralisar tal processo?
Não vou começar aqui um discurso ecologista extremista. Até mesmo porque sendo bem sincero não é o meu perfil. Mas algumas pequenas atitudes tomo. Sempre jogo lixo na lixeira, tendo o cuidado de que quando existe uma destinação específica – papel, metal, orgânico – fazer a devida separação. Porém a estrutura de nossas cidades ainda não está suficientemente voltada para estas iniciativas – pelo menos no Brasil. Não desperdiço comida. O que vai ao prato será consumido. E algumas vezes consumo o que está nos pratos dos amigos – isso eles bem o sabem. Procuro deixar os ambientes com a luz apagada e desligo as máquinas da Academia que freqüento quando não as estou utilizando – é muito comum encontrar as esteiras com seus visores ligados, mesmo sem ninguém as utilizando.
É o suficiente? Claro que não. Mas eu não gostaria de olhar para daqui a duzentos anos e encontrar escombros de megacidades como sendo a única herança a deixar para os meus descendentes. Aí lhes faço uma outra pergunta: aquelas caixas do tempo que são enterradas vez em quando em jardins e solenidades, o que vocês gostariam que elas contivessem como lembrança do período atual? Elas contém, além de objetos dos dias de hoje, uma carta na qual apontamos nossos desejos para o futuro e até mesmo indicamos como este o será. Da minha parte ela seria assim constituída:
Camisas das seleções brasileiras de futebol e vôlei
Um livro
Um CD de música
Uma foto da minha família
Sementes
Um prato e talheres
Na carta eu desejaria que as lembranças ali contidas representassem o modo como a cultura mais me tocava, desejando que os homens do futuro ainda pudessem praticar esportes; ler um bom livro sem ser na tela do computador, mas editado em papel reciclado; pudessem ouvir uma boa música sem serem interrompidos pelo som de balas perdidas; que minha família tivesse uma descendência orgulhosa do futuro que foi plantado; e que se mesmo assim, nada disso existisse, que as sementes servissem para germinar o alimento que seria consumido com o prato e os talheres que lá se encontrariam.Do blog de Nihil Lemos livres pensadores.