Com 600 milhões de pessoas em idade de trabalho, a Índia antevê um boom no tamanho de seus desafios . Foto: Narinder Nanu/AFP
China e índia são os países mais populosos do mundo. A transição demográfica experimentada por eles será decisiva para o futuro da humanidade. Na coluna de hoje discutiremos alguns aspectos da demografia indiana, na próxima mostraremos os dados populacionais na China.
Na Índia vive 17% da população mundial: 1,21 bilhão de pessoas. Entre 2001 e 2011, o crescimento populacional foi de 181 milhões de indivíduos, quase a população do Brasil, o quinto país mais populoso. Segundo as Nações Unidas, em2020 aÍndia ultrapassará a China, e em 2050 haverá 400 milhões de indianos a mais do que chineses. Pelas estimativas, o pico demográfico acontecerá em 2100, quando o país contará com 1,56 bilhão de habitantes.
A Population Foundation of India faz outras previsões: a estabilização já aconteceria em 2080, mas com 1,86 bilhão de habitantes. A discrepância se deve às incertezas sobre o futuro da fertilidade, da mortalidade e das migrações. Sob o impacto das epidemias de peste, cólera e gripe espanhola o país apresentou crescimento negativo entre 1911 e 1921. Somente a gripe espanhola eliminou 5% dos habitantes. Apesar da epidemia de fome de 1940, as taxas de mortalidade diminuíram de forma consistente a partir da década de 1920.
Desde a independência, proclamada em 1947, houve declínio da taxa de mortalidade, que hoje chegou a 8 para cada mil habitantes. A expectativa de vida, que em 1950 era de 38,7 anos para os homens e 37,1, para as mulheres, agora é de 64,4 e 67,6, respectivamente, só devendo chegar aos 70 anos em 2025. Na época da independência, a mortalidade infantil era de 200 a225 óbitos para cada mil nascidos vivos, taxa que hoje é igual a50. A taxa de fertilidade de 6,6 filhos por mulher, em 1966, caiu para 2,8, em 2010. Em dez anos, a fertilidade chegará a 2,1, nível considerado de reposição, quando o número de óbitos iguala o de nascimentos.
A transformação demográfica na Índia é única porque não obedece à transição clássica, na qual o desenvolvimento econômico primeiro faz cair a mortalidade, para depois haver queda da natalidade. A Índia foi o primeiro país do mundo a aplicar programas de planejamento familiar. O declínio da fertilidade foi obtido quase exclusivamente por meio da esterilização feminina. As meninas casam-se em média aos 18 anos, mas 50% das que vivem na zona rural o fazem antes dessa idade. O casamento é universal e os filhos costumam nascer dentro dele. O uso pouco frequente de contraceptivos temporários explica por que as mães dão à luz precocemente e se submetem à esterilização definitiva muito cedo. Em Andhra Pradesh, um dos estados em que a queda da fertilidade foi mais rápida, a maior parte das laqueaduras foi realizada em mulheres com menos de 25 anos.
O censo atual mostra um déficit de meninas com menos de 6 anos: para cada 914 existem mil meninos. A diferença revela o impacto dos abortamentos seletivos, estimados em 3,1 milhões a 6 milhões apenas na última década. Curiosamente, nascem muito menos meninas quando as mães estudaram mais de dez anos.
Há consenso de que as mudanças demográficas estão criando novas oportunidades para o desenvolvimento econômico. A queda rápida dos nascimentos resultou em aumento da relação de dependência (calculada dividindo-se o número total de habitantes pela soma dos que têm de 0 a14 anos com os que estão acima de 65 anos). Em 2010 essa relação atingiu 56%. Numa população total de 1,21 bilhão, essa proporção revela que há mais de 600 milhões de indianos em idade de trabalhar. De acordo com as previsões, esse dividendo demográfico acelerará substancialmente o crescimento da economia nas próximas duas décadas.
Por outro lado, 25% dos indianos com mais de 7 anos estão condenados ao analfabetismo. Nas mulheres o índice é de 35%. Integrar no mercado de trabalho essa massa de pessoas despreparadas é o grande desafio que a Índia enfrenta neste momento.BY CARTA CAPITAL.