Reflexões sobre a Rocinha

A presidenta Dilma, ao abrir recentemente os trabalhos da conferencia das nações unidas, pronunciou uma frase tão sensacional quanto histórica. Dilma Vana Rousseff declarou: “É a primeira vez na história que uma mulher abre os trabalhos na ONU. É a voz da democracia”. Generosamente aplaudida na ocasião, a presidenta, que na atualidade bate recordes de popularidade, personifica o amadurecimento da sociedade brasileira e o fortalecimento da democracia no País.
Contudo, as inúmeras vozes que ecoam a edificação incontestável de uma hercúlea democracia no Brasil são firmes e responsáveis ao afirmar que, nos caminhos de uma nação que em 2011 deve ultrapassar o Reino unido e se consolidar como a sexta maior economia do planeta, não pode haver longas estradas de desigualdade social e miséria. Além das desigualdades, é necessário que possamos refletir sobre a democracia, que não é completa quando marginais obtém êxito em sua nojenta e brutal função de fomentar o desadormecer da intolerância e a proliferação da violência. O processo de favelização, pautado pela ocupação desordenada do território urbano, e caracterizado pelo inchaço dos bolsões de pobreza associados ao crescimento de facções criminosas, determinantes para que a Geografia das favelas favoreça o crime organizado, transformou a rocinha em um símbolo das disparidades sociais e do triunfo dos criminosos no Brasil.
Localizada entre os bairros da Gávea e de São Conrado, na zona sul do Rio de janeiro, a Rocinha, uma das maiores favelas da América latina na atualidade, fica no local onde estava localizada a antiga fazenda Quebra-cangalha, grande produtora de café. A favela possui esse nome em função do fato de, durante a década de 1930, a antiga fazenda ter sido transformada em um grande centro fornecedor de hortaliças para a praça Santos Dummont, que abastecia a zona sul do Rio de janeiro. Nesse período Histórico, os vendedores costumavam dizer a todos os clientes que os alimentos eram provenientes de uma “rocinha” instalada no alto da Gávea.
A Gávea, no atual contexto urbano da cidade maravilhosa, é um dos nobres endereços daquele município, e por isso a presença de uma gigantesca favela contrastando com os luxuosos e imponentes edifícios da zona sul transformaram a Rocinha em um símbolo do fracasso do Brasil em corrigir as indescritíveis distorções sociais que possui. As novas políticas publicas de combate a violência que tem sido empregadas, no entanto, aliançadas ao notório esforço da presidenta Dilma, do governador Sérgio Cabral e do secretário José Mariano Beltrame simboliza o novo momento que a nação vivencia.Afinal, tão importante quando prevenir ações criminosas e punir os bandidos é promover ações que eliminem o poder paralelo e tornem o estado presente na vida do povo das favelas. Brasileiros tão importantes quantos os outros, há muito passou da hora desses irmãos terem direito a serviços básicos e a viver em paz. Se uma nação é,conceitualmente, um conjunto de pessoas ligadas por laços afetivos, históricos e culturais, o Brasil, ao inaugurar uma era de prosperidade econômica e correção das injustiças nas favelas, e ao transformar o maior símbolo de um fracasso histórico em um símbolo de vitória e esperança, avança de forma definitiva nos caminhos que favorecem a ordem e o progresso.
Chico Andrade é Geógrafo, escritor, professor e cientista político.