Há poucos dias, conclamei a sociedade ilheense a incluir, em seu cotidiano, doses de civilidade. Contudo, o que me foi possível observar hoje foram profundas e notórias doses de desrespeito e incivilidade. Estamos em um município que vem, há tempos, vitimando a sociedade em função dos indescritíveis descalabros existentes na saúde local. Nesse dia emblemático em que o novo secretário de saúde do governo municipal, Alexandre Simões, rejeitou o convite dos vereadores para explicar na câmara quais os seus projetos para curar as enfermidades que carbonizam a saúde publica em Ilhéus, resolvi relatar alguns fatos que exemplificam o caos que Ilhéus vivencia na atualidade e esclarecem os motivos pelos quais o descontentamento da sociedade com a saúde publica é tão sólido quanto compreensível.
O primeiro fato me foi narrado pelo senhor Lucas, que me exibiu diversas fotos para demonstrar o que esse cidadão vivenciou no posto avançado de saúde que existe na zona sul de Ilhéus. O posto, apesar do nome, não demonstra avanço algum. Ao contrário, certamente é um dos mais sucateados postos de saúde do estado, abandonado pelas autoridades que, no auge de sua inoperância, não conseguem gerar condições mínimas de trabalho para os funcionários de saúde, que em determinados momentos não possuem sequer algodão para atender aos pacientes. Lucas, indignado, sofria com pressão alta e outros sintomas, e precisou de vinte dias para ser atendido. O segundo fato que vou relatar envolveu a polícia. Reproduzido na câmara através do discurso do vereador Rafael Benevides, que no mesmo pronunciamento denunciou o suposto desvio de remédios dos hospitais e postos de saúde, alegando que diversas cargas de medicamento têm sido surrupiadas, e teve um embate com o vereador petista Paulo Carqueja, afirmando que o mesmo não goza de sua confiança ainda que o petista tenha afirmado que o ajudaria em eventuais investigações, o fato em questão envolve uma cidadã que, desesperada em busca de atendimento médico para a filha, foi parar na delegacia após uma médica, que o vereador Rafael Benevides tem classificado como desequilibrada, chamar a policia. É possível verificar, no fato em questão, a ilogicidade da ação da médica e total ausência de infra estrutura nos hospitais e postos de saúde de Ilhéus.
Outro fato, tão alarmante e entristecedor quanto os demais, consiste na ausência de uma ambulância que possa transportar de forma adequada a senhora Regina Santos, moradora da conquista que, após realizar uma cirurgia no joelho, tem um sonho: Quer voltar para casa. Uma vez que volte para Ilhéus, a nobre cidadã enfrentará a aterrorizante realidade que há tempos o povo vivencia involuntariamente, caracterizado pela incompetência que, irreversível na Ilhéus da atualidade, reina absoluta. Gostaria, enquanto cientista político, de fugir do lugar comum. Não queria afirmar que vivenciamos o caos na saúde publica, que as pessoas estão morrendo, que os hospitais são o fiel retrato da corrupção, da desordem e da incompetência. Entretanto, não me é possível escrever algo diferente, necessito alertar as autoridades para a realidade dos fatos. A cidade se encontra, com o perdão da expressão, pela hora da morte, e, até o momento, as autoridades competentes, além de demonstrar desprezo pela população, parecem ser incapazes de reverter o contexto caótico. Se, em Ilhéus, a saúde publica fosse o nervo vital do coração, a cidade seria vítima, certamente, de um infarto fulminante.