Chico Andrade é Geógrafo, professor, escritor e cientista politico.
O que presenciei no ultimo sábado não foi uma simples audiência publica. Foi, certamente, a construção de um capítulo importante da história de Ilhéus ocorrendo ali, diante dos olhos atentos de mais de três mil pessoas e dos outros milhares de leitores, ouvintes e telespectadores que acompanhavam as imagens, sons e textos mundo afora. Entorpecido diante daquele momento único na história do município, eu estava quase que vivenciando a Filosofia e a musicalidade de “O RAPA” em meu cotidiano. Estava jogado ali. Joguei-me naquele mar de gente disposta a revolucionar uma região e defender dignamente seus ideais.
Jamais houve, em qualquer outro momento da história Ilheense, uma comoção social tão forte em torno de um projeto econômico e social. A explosão de idéias e manifestações é perfeitamente justificável: Ela ocorre em função do porto sul representar um projeto econômico cuja potencialidade pode transformar Ilhéus e toda a região em uma enorme ilha de prosperidade. Naquele instante, a competência e o dinamismo da assessora Thaíse Muniz me oportunizaram um diálogo sadio e inteligente com o secretário estadual da indústria naval Carlos Costa, e me foi possível concordar com a análise de que o tão propalado Produto interno bruto que Ilhéus exibiu nos áureos tempos do cacau, do qual tantos integrantes de nossa sociedade têm saudade, será ultrapassado pela soma das riquezas que a cidade apresentará em seu novo momento histórico. Não apenas Ilhéus, como os outros municípios da região que margeia a ferrovia oeste leste serão contemplados com inúmeros benefícios. Além de inaugurar um período inédito de prosperidade econômica e social, Ilhéus e região podem fomentar a edificação de uma estrutura organizacional ampla, aliançada a um reforço de seus elementos de infra estrutura, fatos que tornam o sul da Bahia preparado para o que deve ocorrer na economia do estado em médio prazo, quando a Bahia deve ultrapassar Minas Gerais na produção de minérios.
Contudo, qualquer projeto dotado de grandiosidade gera, para qualquer sociedade do mundo, um ônus e um bônus. O bônus da prosperidade econômica, na visão dos ambientalistas, não compensa o ônus da degradação ambiental, motivo pelo qual determinados grupos fizeram protestos ao longo dos últimos meses, e também no centro de convenções durante a audiência. Maria do socorro, liderança mais forte do município entre aqueles que se posicionam contra ao projeto porto sul, muito embora representasse a minoria da sociedade, declarou, durante a ocasião, que é contra a degradação ambiental e o sacrifício imposto aos menos favorecidos,e emendou, falando a respeito do G Barbosa, que não é contra esse supermercado, e sim contra a corrupção que tem ocorrido. A que corrupção a ambientalista se referia, descobrirei posteriormente, caso existam denuncias consistentes.
As divergências, como sabemos, aprimoram os projetos e auxiliam na construção de rumos que consolidem o desenvolvimento da economia e a melhoria dos indicadores socioeconômicos. O que vi ali, portanto, foram doses de civilidade aplicadas em uma sociedade que conseguiu nutrir por si mesmo uma paixão tão inédita quanto admirável. Os debates civilizados a respeito de um projeto tão importante suplantaram as manifestações desmedidas e grosseiras, explicitando a compreensão de que qualquer projeto, uma vez executado, terá que possuir o respaldo da responsabilidade sócio ambiental. A capacidade que o governo e a sociedade demonstram de salvar a combalida economia regional sem dissociar seu plano de um consistente projeto de melhoria da qualidade de vida do povo e da necessária preservação do meio ambiente desenha um cenário perfeito para o surgimento de uma cidade livre dos resquícios plutocratas e coronelistas, cujos níveis de progresso serão acompanhados por outras dezenas de municípios baianos, e onde a modernidade, aliançada as necessidades que estão na agenda da sociedade, reinará. O desenvolvimento consistente e responsável que se anuncia precisa, entretanto, vir acompanhado de qualificação e, sobretudo, do resgate da auto-estima do povo. Lembrei até dos pensamentos de