Chico Andrade é Geógrafo,professor,escritor e cientista político
Há algum tempo, confirmei em um artigo a iminência do fim do mundo. A lógica da afirmação não consiste na fantasiosa interpretação do calendário maia, disseminada mundo afora por determinadas personalidades que, na falta de algo melhor para fazer, insistem em anunciar que o fim do mundo ocorrerá no ano de 2012. Consiste no fim do mundo que conhecemos na atualidade. A profunda crise econômica que abala os EUA e o continente europeu expõe as inúmeras fragilidades que o atual modelo econômico, político e social possui, e explicita o desastre de uma conjuntura social que esfacela os sonhos de 99% da população mundial em beneficio de uma elite festiva que parece flutuar em meio ao caos alucinante que atinge a maioria da população em tempos de globalização econômica e cultural.
Contudo, ao mesmo tempo em que a globalização tornou claras as desigualdades sociais, tão profundas quanto inaceitáveis, se converteu em um fenômeno caracterizado pela rapidez de informação, sem o qual não teria sido possível consolidar as redes sociais da internet como um poderoso instrumento de transformações sociais. Como se sabe, o triunfo do capitalismo sobre o modelo socialista, no ato do desmoronamento da antiga União Soviética (URSS),fez parecer que,por décadas afora,o mundo viveria um período de estabilidade,caracterizado por uma completa ausência de revoluções,ou mesmo por qualquer mudança de hábitos que viesse a possuir maior significância.Duas décadas após o triunfo do capitalismo,as distorções provocadas pela má distribuição de recursos em escala global,associadas ao ímpeto revolucionário da juventude globalizada,traz de volta as revoluções.
Em 2011, a primavera Árabe, que começou após a auto imolação de um jovem desesperado com ação autoritária e medíocre de policiais tunisianos que o impediram de vender frutas para sustentar sua família, alterou profundamente o contexto geopolítico global e foi seguida por revoltas gigantescas na Europa, consolidando um movimento revolucionário que parece reativar a comuna, e é diariamente reforçado através de ações inteligentes no twitter, e no facebook.
Como se não bastasse, desde o dia 17 de setembro, os EUA assistem ao movimento ocupe Wall Street, no qual milhões de pessoas tem ocupado praças e culpado o sistema financeiro pela catástrofe financeira que dissemina a desesperança em uma nação cuja história sempre foi pautada por um contexto de prosperidade. O movimento, cujo slogan é “somos os 99%”, está ganhando a adesão de pessoas em todo o planeta, e o atual cenário político e econômico mundial, já marcado por constantes protestos, vai aos poucos incorporando o descontentamento da população da maior potencia do planeta, os EUA, algo antes inimaginável. As revoluções em curso parecem tomar proporções gigantescas e convergir para uma única, potente e globalizada revolução que constitui o fim do mundo que conhecemos hoje, através da refundação das estruturas organizacionais e da reinvenção da sociedade global. Ao que parece, a primavera revolucionária vai avançar pelas estações que estão por vir.