Professor assistente do Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Estadual de Santa Cruz desde 1996, Valter Silva está deixando a presidência da Associação dos Docentes da Uesc, entidade que esteve à frente a partir de 2009. “Estou saindo com o sentimento de ter cumprido o meu dever na liderança da ADUSC e em defesa dos direitos dos docentes. Eu cumpri meu papel na presidência da entidade”, disse ao InformADUSC. Valter Silva está sendo substituído na presidência pelo atual vice-presidente Carlos Vitório Oliveira, eleito no início de setembro. Nesta entrevista, Valter faz um balanço da sua gestão no sindicato, aponta os futuros desafios da nova diretoria e diz que a defesa de uma educação pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada “é a nossa principal bandeira. Além disso, aproximar ainda mais a ADUSC dos docentes, definir uma pauta interna unificada com a Associação dos Funcionários da Uesc-Afusc e com o movimento estudantil são os desafios que vamos enfrentar nos próximos dois anos”.
InformADUSC – O que o levou a assumir a presidência da ADUSC?
Valter Silva – Foi uma decisão pessoal. Sempre participei das ações da ADUSC no Conselho de Representantes, sendo indicado pelo meu Departamento, DCET, e nunca fui omisso nos movimentos de mobilizações do nosso sindicato. Ao conversar com o professor Marcos Rogério, presidente na época, decidi participar. Imediatamente convidei o professor Carlos Vitório e juntos montamos a Diretoria.
InformADUSC – Quais os principais avanços que você destaca na sua gestão?
Valter Silva – Primeiro quero fazer justiça e destacar que os avanços só foram possíveis graças a atuação de todos os membros da diretoria da ADUSC: Eu, Carlos Vitório, Maria Neuza, Marcos Neves, Francisco Júnior, Élvis Pereira e Rita Curvelo. Todos nós ajudamos a Fortalecer a Adusc e Intensificar as Lutas. As ações a serem destacadas são: Reforma da sede, com recursos próprios; Contratação da Assessoria de Comunicação; Atualização e reestruturação da página do sindicato; Consolidação do InformADUSC, com um novo design e edição semanal; Disponibilização da Assessoria Jurídica aos associados da ADUSC; Prestação de Contas, publicada no nosso site; Convênio com o plano de saúde SulAmérica; Convênio com o plano Odontológico Prodent; Convênio com a Churrascaria Nego Novo no Banco da Vitória; Participação de todos os Conad e Congressos do Andes/SN; Participação dos eventos promovidos pela Regional Nordeste III, Participação de todas as reuniões do Fórum das AD e dos eventos promovidos pelo movimento docente.
InformADUSC – Do ponto de vista político, houve alguma conquista?
Valter Silva – Sim, nós ganhamos quatro ações na justiça. Primeiro foi o episódio do corte, por parte da reitoria da Uesc, da gratificação adicional por atividade insalubre. Por meio de ação judicial, a Justiça ordenou o restabelecimento da gratificação, retroagindo os efeitos financeiros a janeiro deste ano. A segunda, em relação ao regime de dedicação exclusiva que a Justiça deu um prazo para a reitoria se manifestar. A terceira, em relação ao parecer do Tribunal de Contas do Estado que acusou alguns docentes de estarem recebendo indevidamente, a Justiça mandou suspender as comissões de sindicância criadas pela reitoria da Uesc e alguns docentes entraram individualmente com a sua defesa. Por último, pela primeira vez, ganhamos na Justiça, o direito de receber os nossos salários ainda em greve, depois que o Governo suspendeu, de maneira violenta, os nossos salários
.InformADUSC – Você destaca alguns avanços durante sua gestão. Por que não continua à frente do sindicato?
Valter Silva – Por motivos pessoais, não devo continuar como presidente do nosso sindicato ou mesmo fazer parte da nova diretoria. Mas estarei na base, ajudando no que for preciso para fortalecer a ADUSC. Eu tenho certeza que a nova diretoria, liderada pelo professor Carlos Vitório, atual vice, dará continuidade ao trabalho que iniciamos há dois anos. Durante esse tempo, defendemos uma educação pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada, e também em defesa dos direitos dos docentes da Uesc. Ainda temos muito a fazer para construirmos um sindicato ainda mais forte. Mas fico tranqüilo, com o sentimento de ter cumprido o meu dever enquanto presidente da ADUSC, no biênio 2009/2011.
InformADUSC – A greve das universidades foi uma das maiores mobilizações do MD das UEBA. Houve algum ganho para os docentes?
Valter Silva – Claro que tivemos ganhos, inclusive para os aposentados. Fizemos a greve para impedir que o Governo continuasse atacando o pouco de autonomia que ainda nos restava, para valorizar o trabalho docente e para garantir o bom funcionamento das atividades de ensino, pesquisa e extensão na Uesc. Esses foram os principais motivos que nos levaram à deflagração da greve que teve dois eixos: a incorporação da gratificação por Condições Especiais de Trabalho e a revogação do decreto 12.583/2011. Após 67 dias de greve, o Governo aceitou incorporar a CET e assinou um documento que garante o respeito ao Estatuto do Magistério Superior e abre espaço para os estudantes e servidores discutirem as suas pautas específicas.
InformADUSC – Como você avalia a ocupação da Assembleia Legislativa da Bahia?
Valter Silva – Durante a greve de 2011, as universidades estaduais baianas sofreram uma agressão muito forte à sua autonomia por parte dos decretos do Governo. E as instituições reagiram, fazendo o Governo assinar um documento reconhecendo a interferência do Estado nas ações internas das universidades. A ocupação na Assembleia Legislativa teve um papel decisivo no desfeche das negociações. Os professores e os estudantes estiveram juntos, resistindo firmemente ao abuso de poder, utilizado pelo Governo. A repercussão foi muito intensa e a nível nacional, o que levou o governo a retomar as negociações e assinar um acordo com as UEBA.
InformADUSC – Para você, quais são os principais desafios para a diretoria da ADUSC?
Valter Silva – Apesar dos avanços que eu me referi, ainda há muito a se fazer para o fortalecimento do nosso sindicato. Neste sentido, os principais desafios para o movimento são: não perder o acúmulo de experiência das gestões anteriores; aproximação do sindicato aos docentes e às outras entidades representativas; ampliação do número de associados; construção de uma pauta interna unificada entre docentes, servidores e estudantes e a realização de palestras, seminários e cursos de formação política.
InformADUSC – Como você avalia a chegada da Universidade Federal no sul e extremo-sul da Bahia?
Valter Silva – Segundo o Inep, a Bahia, juntamente com o Ceará, é o Estado com o pior índice de vagas nas universidades federais por mil habitantes. Esse quadro não será alterado com a criação das duas universidades anunciadas pela presidenta Dilma Rousseff. A criação da Universidade Federal do Sul da Bahia é de fundamental importância para uma maior democratização do acesso ao ensino de qualidade e uma maior distribuição de renda nas regiões sul e extremo-sul. Os números do último vestibular da Uesc mostram que apenas 11%, ou seja, 1.600 dos estudantes inscritos ingressaram na instituição no ano de 2010. Além disso, podemos concluir que a maior parte da demanda reprimida não faz outra seleção em universidade pública, porque a única opção regional é a Uesc. Outro aspecto interessante, do ponto de vista macroeconômico da região, é a distribuição de renda que o projeto da nova universidade vai proporcionar. Tomando como referência a Uesc, que em 2010 injetou cerca de R$ 120 milhões no sul da Bahia, a nova instituição vai contribuir muito para o aquecimento do comércio regional;http://www.adusc.org.br/2011/10/entrevista-com-o-presidente-da-adusc-professor-valter-silva/