Artigo: “Nem só de Copa do Mundo vive um país”, por Gabriel Medina


A vinda da Copa do Mundo ao Brasil merece uma comemoração, pois reflete a política internacional exitosa de um país com crescimento econômico, inclusão social e um forte papel indutor do Estado.


Despontamos como uma das potências do mundo e poderemos dar uma enorme visibilidade à nossa riqueza cultural, à nossa beleza natural e contribuir para incrementar nossa economia.
Por outro lado, se o Brasil não se preparar, pode trazer problemas preocupantes como aumento da prostituição, maior segregação social e danos a direitos sociais conquistados (como no caso o direito à meia entrada para estudantes, política que deve ser universalizada com o Estatuto da Juventude).
É interessante observar como a mídia abordou a aprovação do Estatuto da Juventude . Não foi constatada nenhuma avaliação positiva sobre a construção de um marco legal que convoca a sociedade a ter uma atenção social para este período da vida pelo qual passam 50 milhões de brasileiros.
Ao contrário de serem vistos como sujeitos de direitos, capazes de participar da construção do país, os estereótipos sobre os jovens são sempre com cunho negativo, os imputam irresponsabilidade, alienação, apatia, rebeldia, enfim, um conjunto de características que reforçam ações de caráter repressivo ou mesmo repulsivos.
Inúmeras pesquisas têm demonstrado que a juventude espelha muito a sociedade que vivemos e que seus valores e opiniões sobre o mundo não são tão diferentes dos presentes no mundo adulto.
Os únicos aspectos destacados na cobertura da imprensa deram destaque a capítulos que geram “gastos” ao Estado ou a setores do mercado, mas a maior preocupação foi dada a proposta de meia-entrada em eventos culturais e esportivos, principalmente com destaque para os problemas com a Copa do Mundo, diga-se de passagem com a FIFA.
A proposta de meia-entrada para estudantes já existe em vários Estados do país, o que se procurou fazer foi universalizar a política para o território nacional com um claro objetivo de afirmar que a cultura e o esporte devem ser considerados direitos sociais, elementos fundamentais para a formação do desenvolvimento integral dos jovens e para a promoção da qualidade de vida.

Esporte e cultura não devem ser meras mercadorias em balcões de supermercados ou presentes em shopping center, e sim investimento social.
Cabe destacar um caso emblemático: o cinema, que não sobrevive mais nos centros da cidade, são operados por grandes empresas, a custos altos e pautados pela indústria cinematográfica dos Estados Unidos.
É preciso “desmercantilizar” a vida, recuperar o sentido do público no convívio na sociedade e permitir que uma nova geração tenha plenas condições de ter acesso ao patrimônio cultural produzido pela humanidade para que tenha plenas condições de construir novos valores e sociabilidades.
O estatuto não pretende prejudicar nenhum setor da cultura, principalmente os artistas que vivem de sua produção independente com dificuldade de se sustentar. A estes setores, defendo que o Estado crie mecanismos para subsidiar cadeias produtivas criativas, fundamentais para o nosso país.
Porém, existem setores da indústria cultural e esportiva que têm condições de diminuir o seu lucro e assumir o compromisso com a construção de um novo Brasil. Para facilitar o entendimento do leitor, não é assustador os ganhos mensais de um jogador de futebol de um time grande?
O país tem a responsabilidade de oferecer condições para que todos os jovens, independentemente de sua classe social, gênero, raça ou região possam viver a juventude, tempo que deve ser assegurado o direito ao tempo livre, à liberdade, à participação e não apenas período de preparação para a vida adulta.
Hoje em dia milhões de jovens não têm o direito de usufruir de uma educação de qualidade e em muitos casos são obrigados a trabalhar precocemente, sendo vítimas da precarização, informalidade. Ciclo de exclusão que marcará toda uma vida.
Ao despontar como uma das potências econômicas do mundo, o Brasil precisa que sua riqueza acumulada seja um patrimônio a serviço do desenvolvimento do seu povo, na busca da redução da pobreza, na diminuição da desigualdade e oferecimento de serviços públicos de qualidade universais.
Uma Copa do Mundo não pode limitar um país de exercer sua soberania, de aprofundar a construção de um novo processo civilizatório, marcado pela participação democrática e justiça social.
O Estatuto da Juventude precisa ser votado e sancionado pela Presidenta. Os direitos previstos nele, como a meia-entrada, precisam ser regulamentados e, inclusive, experimentados na Copa do Mundo.
É desta forma que o Brasil continuará sendo exemplo para o mundo. Reafirmando que os rumos de nosso país são determinados pelo Estado, que abre canais de diálogo com a sociedade cuja direção é orientada pelo bem comum e da defesa do público.
Nem só de Copa do Mundo vive um país!
Gabriel Medina
Presidente do Conselho Nacional de Juventude
Fórum Nacional de Movimentos e Organizações Juvenis – Fonajuves