Acusador do ministro do Esporte entrega celular com 13 gravações à PF, nenhuma delas com Orlando Silva

Do UOL Notícias*
Em Brasília


Delator de ministro também é réu

O policial militar João Dias entregou nesta segunda-feira (24) à Polícia Federal um telefone celular com 13 gravações. Ele afirmou que o áudio registra conversas dele com membros do Ministério do Esporte, indicando como fraudar prestações de contas dos convênios que firmou com a pasta comandada desde 2003 pelo PCdoB.

O telefone foi encaminhado para perícia e os resultados devem ser divulgados na semana que vem, de acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Federal. Dias acusa o ministro do Esporte, Orlando Silva, de integrar um esquema de desvio de verbas públicas do programa Segundo Tempo para abastecer caixa eleitoral da legenda comunista.
Ainda hoje, por ordem do próprio ministro do Esporte, o secretário-executivo do ministério, Waldemar de Souza, constituiu uma Comissão de Sindicância para investigar as acusações publicadas pela revista "Veja" de suposto envolvimento de servidores da pasta em irregularidades administrativas.

“Vamos reforçar tudo que afirmamos”, disse Dias antes do seu segundo depoimento à PF. O próprio acusador, que chegou a ser preso por envolvimento com notas fiscais frias, afirmou à polícia que nas gravações não há nenhum diálogo com Silva –mantido no cargo na última sexta-feira (22) pela presidente Dilma Rousseff.

Ministro diz que denúncias foram feitas por bandido


Denúncias no Esporte devem dominar a agenda políticaOrlando Silva terminou a semana como ministro do Esporte, mas as denúncias de corrupção que envolvem a pasta ainda devem dominar a agenda política nesta semana
João Dias acrescentou que pessoas ligadas ao ex-ministro e atual governador do DF, Agnelo Queiroz, participam das gravações. “Há apenas pessoas próximas a ele”, disse o policial militar, referindo-se a Fábio Hansem –então chefe de gabinete da Secretaria Nacional do Esporte Educacional, mas que atualmente assessora Orlando Silva– e Charles Rocha, então chefe de gabinete da Secretaria Executiva do ministério. A reunião, segundo a "Veja", ocorreu em abril de 2008.

“Fui convidado para uma reunião na calada da noite, com o objetivo de parar com a produção de documentos falsificados que originaram a Operação Shaolin”, disse. “Acredito que [durante] toda a semana vão aparecer coisas novas porque estamos recuperando as provas”, disse em referência aos arquivos na PF obtidos durante a operação.

Além disso, acrescentou, entregará até a próxima quarta-feira (26) oito vídeos de Michael Vieira, a primeira pessoa a denunciar o esquema, negociando uma delação premiada. “A minha briga é para provar que existem vários pagamentos de diversas empresas e entidades. Como nós rejeitamos esse protocolo, aconteceu a Operação Shaolin”, disse.

Ele voltou a reafirmar que acha difícil o ministro não ter conhecimento do esquema, já que em todas as reuniões o chefe de gabinete e o secretário executivo estavam presentes, além de pessoas que cuidavam da área de prestação de contas e fiscalização do ministério. “A reunião [sobre o Segundo Tempo] é feita no sétimo andar da Secretaria Executiva, com a cúpula do ministério. Então é de interesse do ministério”, completou.

Ex-militante do PCdoB, mesmo partido do ministro, João Dias Ferreira é responsável pela Federação Brasiliense de Kung Fu e pela Associação João Dias de Kung Fu, organizações não governamentais (ONGs) com as quais o ministério firmou dois convênios em 2005 e 2006, para que crianças e jovens em situação de risco fossem atendidos pelo Programa Segundo Tempo, criado pelo governo federal para incentivar crianças carentes a praticar atividades esportivas.

Nos próximos dias, o policial militar deve depor a uma comissão da Câmara dos Deputados. De acordo com a PF, Dias pouco acrescentou na comparação com seu primeiro depoimento, realizado na última quinta-feira (20). Ele diz que está sendo “ameaçado e perseguido” por conta das denúncias que apresentou à revista “Veja”.
*Com informações da Agência Brasil