Queda da Selic gera críticas
O anúncio da redução da taxa básica de juros da economia, de 12,5% para 12%, pelo Banco Central (BC), na quarta-feira 31, provocou a “fúria” de analistas do mercado financeiro, de ex-presidentes da instituição, como Carlos Langoni e Gustavo Loyola, e do ex-diretor Alexandre Schwartsman. Eles fazem parte de um grupo que considerou a medida equivocada, indicou pressões governamentais e colocou em dúvida a credibilidade do órgão, que atribuiu a decisão à “substancial deterioração” da economia mundial. O governo nega interferência.
No dia seguinte à decisão, a Bolsa de Valores reagiu com alta e uma procura por ações de ligadas ao consumo doméstico, como papéis redes varejistas e setor imobiliário, o que pode ser considerado uma fuga de investidores em títulos públicos baseados na Selic para o mercado financeiro.
A presidenta Dilma Rousseff defendeu o corte como necessário para garantir o crescimento do País na crise, que terá longa duração, segundo a mandatária. No entanto, ao anunciar a elevação da meta do superávit primário de 81,8 bilhões de reais para cerca de 91 bilhões de reais em 2011, na segunda-feira 29, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, adiantou que a medida abria caminho para o corte dos juros. A eventual redução poderia significar uma redução de cerca de 134 bilhões de reais em gastos com juros no primeiro semestre de 2011.
Após cinco altas seguidas, o mercado apostava na manutenção da Selic e se surpreendeu. “Estão criticando porque vivem disso e fazem a mesma coisa quando uma decisão do Copom não os agrada”, diz o ex-secretário municipal de Finanças de São Paulo, Amir Khair (1989-1993).
Com a medida, o governo sinaliza a intenção de manter a economia aquecida em uma possível crise. “Reagir com o consumo para manter o crescimento é uma opção viável”, explica, descartando preocupações com a inflação, que tem o centro da meta estipulado em 4,5% e mais dois pontos percentuais de margem. “A Selic não tem relação direta com o consumo, pode impulsionar o setor de serviços, que representa 1/4 da inflação, mas o restante vem de alimentos, commodities, etc, influenciados por fatores externos”.
O aspecto também parece não incomodar o BC, que na nota do Copom aponta a piora do “ambiente internacional” como um fator que irá “moderar a atividade doméstica” e arrefecer o crescimento, já sentido com as altas de Selic durante o ano, principalmente na indústria.
Dados da produção industrial de julho, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na quarta-feira 31, mostram um avanço de 0,5% no setor, contra uma queda de 1,2% no mês anterior.
Para 2011, a expectativa de crescimento é de 2%, metade do esperado por analistas no início do ano. O crescimento acumulado nos últimos 12 meses está em queda desde outubro de 2010, passando de 3,7% em junho para 2,3% em julho deste ano. Além disso, o setor siderúrgico também mostra sinais de desaceleração.
A diminuição da expectativa de crescimento do PIB para 2011 vem sendo apontada por diversas entidades internacionais. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe da ONU (Cepal) reviu suas previsões de 4% para 3,5% e o boletim Focus apontou crescimento de 3,79% em 2011 e 3,90% para 2012.
A queda da Selic também ajuda a diminuir a pressão sobre o câmbio. O real valorizado mantém o setor de exportações da economia brasileira em situação frágil, porque perde-se competitividade e os produtos importados inundam o mercado nacional.
Para controlar o problema, Khair defende que o BC controle mais efetivamente os investimentos estrangeiros diretos no País, que não foram tarifados nas medidas já anunciadas pelo governo, evitando o uso desse capital no mercado financeiro.
Porém, mesmo com o real valorizado, as exportações brasileiras seguem em alta, segundo dados oficiais. Em agosto, registram 26,1 bilhões de dólares (cerca de 42,1 bilhões de reais), contra 22,28 bilhões de dólares (36 bilhões de reais) em importações. Um saldo positivo de 3,87 bilhões de dólares (6,2 bilhões de reais), 54,9% maior que no mesmo período de 2010. No resultado do ano, a vantagem brasileira é de 32,2 bilhões de reais contra 18,7 bilhões de reais em 2010.
A explicação para essa margem positiva em um cenário desfavorável se baseia no elevado preço das commodities e da larga procura destes itens no mundo, sustentadas principalmente pela China.
Por outro lado, as importações também aumentaram com o maior poder de compra dos brasileiros. Por isso, o economista defende medidas de controle a esses produtos, pois uma crise global diminuiria a procura por commodities e inviabilizaria o crescimento das exportações em outros setores. Enquanto isso, o mercado interno se tornaria alvo dos importados. “O governo pode limitar quantidades e aumentar impostos, por exemplo, para manter a balança comercial equilibrada”.