Quando o extraordinário se torna cotidiano
Ainda sob efeito da alegria de termos aprovado no PT a paridade entre mulheres e homens em todos os espaços de direção, decidi escrever este breve relato.
Por Renata Rossi
Terça-feira, 6 de setembro de 2011
Terça-feira, 6 de setembro de 2011
Representando a chapa Esquerda Socialista, participei da Comissão de Reforma Estatutária que preparou o anteprojeto que foi levado a discussão para as/os 1.300 delegadas e delegados e tive a honra de, em todas as reuniões defender, sem vacilar, a paridade. Essa posição estava amparada na política defendida pela corrente interna do PT da qual faço parte, que está em fase de construção e que, até agora, temos chamado de Inaugurar um novo Período.
Escrevi, nesse meio tempo, alguns artigos apresentando dados que mostram a subrepresentação das mulheres no Brasil e o atraso em relação a demais países da América Latina e emitindo a opinião que nos levava a defender a paridade. Aqui, no entanto, quero relatar o processo em si, a construção política no âmbito do partido que levou a nossa vitória.
Foram várias as reuniões da Comissão e várias as tentativas de para que recuássemos de nossa posição e topássemos um acordo que dizia que a paridade somente aconteceria no PED de… 2017! Até lá, teríamos que nos contentar com a participação de 40% de mulheres nos espaços de direção.
Em todas elas, afirmávamos, ainda que para constar – pois, como absoluta minoria seque conseguimos garantir que a proposta estivesse inscrita no caderno do anteprojeto levado ao debate – que a paridade seria fundamental para que o PT fosse protagonista na mudança de correlação de forças na sociedade, para que a sociedade brasileira – que tem a sua maioria composta por mulheres – se reconhecesse nesse partido que é de massas e que elegeu a primeira mulher presidenta do país.
O Presidente da Comissão, Ricardo Berzoini, ex-presidente do PT, com todo respeito e cuidado de não se opor de frente a iniciativa, deixava escapar na sua fala algo como:
- Radicalismo não levará a nenhum lugar…
Cumpre ressaltar uma coisa: dos integrantes ativos/as da Comissão, cerca de 10 pessoas, apenas duas mulheres: LaisyMoriere, atual Secretária Nacional de Mulheres do PT e eu.
Ou seja, um grupo de homens debatendo a proporção de mulheres no Partido, antevendo e contabilizando quantos deles teriam de sair das próximas direções para que as mulheres assumissem estes espaços.
Lamentavelmente, a Secretária Nacional de Mulheres do PT topou e patrocinou o tal acordo que previa uma transição: teríamos, no próximo PED (em 2013) 40% de cotas e no PED seguinte (2017!), finalmente, os 50%.
Discutimos algumas vezes dentro e fora da comissão. Pedia ela:
- Não façam isso. Não defendam 50%.
Eu perguntava o porque e a resposta vinha em tom de ameaça:
- Se radicalizarmos, poderemos voltar para os 30%.
Confiante na força das mulheres petistas e lembrando o 13 Encontro Nacional, em 2007, quando mesmo que sendo minoria das delegadas, conseguimos convencer a maioria do Partido a aprovar a resolução que defendia a descriminalização do aborto, tive de contraria a Secretária.
Além do mais, radicalizar, nunca foi um problema para as petistas.
E ainda, eu dizia:
- Se nós não apresentarmos a política, não serão, infelizmente, estes homens, ao redor desta mesa que defenderão.
Compreendia a agonia da Secretária: ela representava uma posição construída pelos homens, nitidamente moderada e sem nenhuma consistência política.
Foi então que o processo, a quente, do Congresso, garantiu o aprofundamento do debate. As mulheres do Coletivo Nacional se reuniram e fizeram um bom debate sobre o tema. Várias correntes mudaram suas posições e passaram a defender a paridade. Diversas lideranças políticas, homens e mulheres, foram convencidos/as por estas mulheres que fizeram uma verdadeira campanha conversando de um/ por um/, coletando assinaturas de apoio.
O resultado consagrou a luta destas mulheres e a proposta da paridade foi aprovada por amplíssima maioria, quase uma unanimidade.
A Ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário estava a frente do debate e expressou a alegria com aquele momento.
Benedita da Silva, esta mulher que, 20 anos atrás defendeu as cotas de 30% soltou um verdadeiro grito de guerra que saiu do fundo da sua alma e tocou a todas nós.
A Presidenta Dilma deve estar contente.
Eu… bom eu estava lá, na mesa que coordenou os trabalhos. Morrendo de orgulho do meu partido e de nossas mulheres. E meu sentimento foi o de gratidão. Pois, os meses de trabalho na Comissão defendendo o que parecia indefensável e, principalmente, o próprio fato de eu estar ali, naquela mesa, não teriam acontecido se não fosse a luta histórica das mulheres do PT.
A Secretária de Mulheres do PT, teve de pular, dizem até que tentou simular um choro para parecer que tinha alguma coisa a ver com aquilo. Se dependesse dela – e digo dela, porque a posição não refletia a opinião do Coletivo de Mulheres (outro erro que mereceria a destituição do cargo) – teríamos dado apenas um meio passo.
Não queria ser grosseira com a companheira Secretária. Mas quando eu vi Benedita, Rosário, Angélica, Vera, Janete, Rosângela e todas aquelas mulheres lutando tão bravamente, tão honestamente, percebi que seria preciso, para honrar elas e esta luta, contar um pouco dos bastidores deste momento que foi histórico.
E também para mostrar como a luta das mulheres não é fácil. Tanto que algumas de nós, mulheres, ainda não a compreendem como central na consolidação da democracia, da reparação social, da construção de um outro mundo.
Agora nossa próxima batalha é a construção de uma nova corrente nacional interna do Partido que nasce a partir das companheiras e companheiros que construíram a tese Inaugurar um Novo Período, juntamente com as/os companheiros/as da TM, da UPS, do PT de Aço e mais lideranças políticas de 20 estados. Esta corrente nasceu afirmando e implementando a paridade na sua constituição.
Uma corrente que nasce na esquerda do PT, para disputar a opinião na sociedade. Que se apresenta como uma contribuição ao Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras nesse novo período.
Finalmente, a Reforma Estatutária do PT acabou se transformando numa Revolução Estatutária. Viva as Mulheres do PT!
*Renata Rossi,é do Diretório Nacional do PT, integrou a Comissão de Reforma Estatutária, e está Inaugurando um Novo Período.
Escrevi, nesse meio tempo, alguns artigos apresentando dados que mostram a subrepresentação das mulheres no Brasil e o atraso em relação a demais países da América Latina e emitindo a opinião que nos levava a defender a paridade. Aqui, no entanto, quero relatar o processo em si, a construção política no âmbito do partido que levou a nossa vitória.
Foram várias as reuniões da Comissão e várias as tentativas de para que recuássemos de nossa posição e topássemos um acordo que dizia que a paridade somente aconteceria no PED de… 2017! Até lá, teríamos que nos contentar com a participação de 40% de mulheres nos espaços de direção.
Em todas elas, afirmávamos, ainda que para constar – pois, como absoluta minoria seque conseguimos garantir que a proposta estivesse inscrita no caderno do anteprojeto levado ao debate – que a paridade seria fundamental para que o PT fosse protagonista na mudança de correlação de forças na sociedade, para que a sociedade brasileira – que tem a sua maioria composta por mulheres – se reconhecesse nesse partido que é de massas e que elegeu a primeira mulher presidenta do país.
O Presidente da Comissão, Ricardo Berzoini, ex-presidente do PT, com todo respeito e cuidado de não se opor de frente a iniciativa, deixava escapar na sua fala algo como:
- Radicalismo não levará a nenhum lugar…
Cumpre ressaltar uma coisa: dos integrantes ativos/as da Comissão, cerca de 10 pessoas, apenas duas mulheres: LaisyMoriere, atual Secretária Nacional de Mulheres do PT e eu.
Ou seja, um grupo de homens debatendo a proporção de mulheres no Partido, antevendo e contabilizando quantos deles teriam de sair das próximas direções para que as mulheres assumissem estes espaços.
Lamentavelmente, a Secretária Nacional de Mulheres do PT topou e patrocinou o tal acordo que previa uma transição: teríamos, no próximo PED (em 2013) 40% de cotas e no PED seguinte (2017!), finalmente, os 50%.
Discutimos algumas vezes dentro e fora da comissão. Pedia ela:
- Não façam isso. Não defendam 50%.
Eu perguntava o porque e a resposta vinha em tom de ameaça:
- Se radicalizarmos, poderemos voltar para os 30%.
Confiante na força das mulheres petistas e lembrando o 13 Encontro Nacional, em 2007, quando mesmo que sendo minoria das delegadas, conseguimos convencer a maioria do Partido a aprovar a resolução que defendia a descriminalização do aborto, tive de contraria a Secretária.
Além do mais, radicalizar, nunca foi um problema para as petistas.
E ainda, eu dizia:
- Se nós não apresentarmos a política, não serão, infelizmente, estes homens, ao redor desta mesa que defenderão.
Compreendia a agonia da Secretária: ela representava uma posição construída pelos homens, nitidamente moderada e sem nenhuma consistência política.
Foi então que o processo, a quente, do Congresso, garantiu o aprofundamento do debate. As mulheres do Coletivo Nacional se reuniram e fizeram um bom debate sobre o tema. Várias correntes mudaram suas posições e passaram a defender a paridade. Diversas lideranças políticas, homens e mulheres, foram convencidos/as por estas mulheres que fizeram uma verdadeira campanha conversando de um/ por um/, coletando assinaturas de apoio.
O resultado consagrou a luta destas mulheres e a proposta da paridade foi aprovada por amplíssima maioria, quase uma unanimidade.
A Ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário estava a frente do debate e expressou a alegria com aquele momento.
Benedita da Silva, esta mulher que, 20 anos atrás defendeu as cotas de 30% soltou um verdadeiro grito de guerra que saiu do fundo da sua alma e tocou a todas nós.
A Presidenta Dilma deve estar contente.
Eu… bom eu estava lá, na mesa que coordenou os trabalhos. Morrendo de orgulho do meu partido e de nossas mulheres. E meu sentimento foi o de gratidão. Pois, os meses de trabalho na Comissão defendendo o que parecia indefensável e, principalmente, o próprio fato de eu estar ali, naquela mesa, não teriam acontecido se não fosse a luta histórica das mulheres do PT.
A Secretária de Mulheres do PT, teve de pular, dizem até que tentou simular um choro para parecer que tinha alguma coisa a ver com aquilo. Se dependesse dela – e digo dela, porque a posição não refletia a opinião do Coletivo de Mulheres (outro erro que mereceria a destituição do cargo) – teríamos dado apenas um meio passo.
Não queria ser grosseira com a companheira Secretária. Mas quando eu vi Benedita, Rosário, Angélica, Vera, Janete, Rosângela e todas aquelas mulheres lutando tão bravamente, tão honestamente, percebi que seria preciso, para honrar elas e esta luta, contar um pouco dos bastidores deste momento que foi histórico.
E também para mostrar como a luta das mulheres não é fácil. Tanto que algumas de nós, mulheres, ainda não a compreendem como central na consolidação da democracia, da reparação social, da construção de um outro mundo.
Agora nossa próxima batalha é a construção de uma nova corrente nacional interna do Partido que nasce a partir das companheiras e companheiros que construíram a tese Inaugurar um Novo Período, juntamente com as/os companheiros/as da TM, da UPS, do PT de Aço e mais lideranças políticas de 20 estados. Esta corrente nasceu afirmando e implementando a paridade na sua constituição.
Uma corrente que nasce na esquerda do PT, para disputar a opinião na sociedade. Que se apresenta como uma contribuição ao Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras nesse novo período.
Finalmente, a Reforma Estatutária do PT acabou se transformando numa Revolução Estatutária. Viva as Mulheres do PT!
*Renata Rossi,é do Diretório Nacional do PT, integrou a Comissão de Reforma Estatutária, e está Inaugurando um Novo Período.