por Manuela Azenha
Pela casa de José Jorge da Silva a Prefeitura do Rio de Janeiro ofereceu R$ 8.700.
Ele diz que a quantia é irrisória: “Eu mesmo construí minha casa há 16 anos e gastei 10 mil. Hoje, vale pelo menos 50 mil!”.
José é um dos últimos moradores da Vila Recreio II a resistir às remoções promovidas pelo governo da cidade para fazer as obras de infraestrutura voltadas para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.
Neste caso é o BRT Transoeste, uma via rápida para os ônibus.
José é vizinho da filha. As duas casas, agora inabitáveis, permanecem mobiliadas com sofá e fogão, hoje em meio à água. “Se a prefeitura diz que eu abandonei o imóvel com tudo isso dentro, imagina sem nada”.
José mostra que as trancas das portas foram arrebentadas. “A prefeitura fez isso. Aí eu colei esse papel que peguei da internet com a situação jurídica do nosso processo, quais seriam nossos direitos e os procedimentos que deveriam ser seguidos. ‘Pronto! Essa é a minha chave agora!’, eu disse a eles. Não quero respeito ao José. Quero respeito à lei!”.
Ele conta a história de uma vizinha. Como a indenização recebida não foi suficiente para comprar outra casa, passou a dormir em um carro abandonado. “Esquecem de dizer que o decreto de desapropriação é de 2001, ou seja, é uma defasagem total do valor do imóvel”, argumenta José.
José explica o motivo de ter deixado o imóvel: “Começou a entrar água dentro de casa, quando saí tinha subido até aqui”, diz ele, apontando para a altura da barriga. Vê-se as marcas de água até metade das paredes. O chão, completamente tomado por água e musgo. Outros moradores fizeram acordo com a prefeitura, até que grande parte da comunidade foi abandonada e as obras começaram. “O chão desse terreno era tudo de pântano. A gente que aterrou. Quando furaram o chão, começou a entrar água dentro das casas”.
Aqui se repete o que vimos em outros bairros em que aconteceram remoções. O projeto oficial da obra nunca foi apresentado, nem debatido com moradores. “Até porque mudam o projeto o tempo todo”, afirma José. Ele questiona a necessidade de retirar toda a comunidade, de 238 famílias, para abrir espaço para o BRT Transoeste. “Eu sei o que está acontecendo”, diz José, ao denunciar que uma construtora “vai fazer um condomínio de casas de luxo logo aqui atrás”. Segundo ele, os seguranças da empresa “são todos milicianos, matadores da região, conheço todos eles”.
Hoje, são 16 as famílias que não aceitaram os termos da prefeitura. “Dá até pena da subprefeitura, eles são muito fraquinhos. A gente chega lá falando dos nossos direitos e eles nem sabem do que estamos falando. Eu já disse a eles que não adianta fazerem nada. Na nossa situação, Eduardo Paes é um ditador. Tudo bate nele e volta, como nessa parede aqui”.
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As casas de José e da filha, marcadas 109, 108 e 107 pela Secretaria Municipal de Habitação do Rio de Janeiro. Abaixo, o interior de um dos cômodos.