Só os inconsequentes de esquerda, incluídos também nesse rol os espíritos aflitos equivocados, defendem a censura à imprensa. Analogamente, os inconsequentes de direita e, igualmente, os espíritos aflitos desse lado tentam interditar o debate sobre o marco regulatório, tão necessário e já tão tardio.
Essa me parece ser uma epígrafe inevitável, por circunstâncias históricas do País, quando se trata de debater a imprensa tendo em vista a proposta de regulação do setor de volta à pauta, empurrado pela resolução aprovada no IV Congresso do Partido dos Trabalhadores.
O tema ganhou força no PT a partir da reportagem de Veja sobre o ex-deputado José Dirceu, importante e influente líder do partido. Em certas passagens a revista atropela a ética criminosamente. O problema conta, agora, com o silêncio constrangedor da mídia.
A proposta do PT de criação de um marco regulatório é inspirada pela emoção, mas também pela razão, embora, às vezes, se guiem pelo desconhecimento da profissão e da natureza especial das empresas jornalísticas. Como não decifram melhor o tema são, às vezes, devoradas por ele. É possível retirar exemplos da moção aprovada no Congresso do PT, em que se resgata o mito da objetividade e da isenção na informação.
Este colunista tem, nos arquivos, os títulos dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo, de 13 de janeiro de 2008, sobre a reabertura do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Ei-los:
O Globo: “Masp reabre com mais polícia do que público”.
Folha: “Na reabertura do Masp, sobra público e falta segurança”.
Dois repórteres e um fato. É o bastante. A objetividade foi para a cucuia. Equívocos sobre jornalismo prosperam como capim-gordura.
O debate que se abre agora traz à memória uma confusão incluída na soterrada intenção da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), de criação de um Conselho Federal de Jornalismo. Atacada em geral pelos méritos, tinha vícios como o do artigo 1º, que tentava definir o que lhe parecia ser a atividade profissional: “De natureza social e finalidade pública”. Ou seja, a propagação do sacerdócio amador na iniciativa privada. Um tiro no profissionalismo a favor do princípio de que a imprensa é isenta, objetiva e imparcial tão ao gosto dos barões do setor.
Em palestra na Univerdade Federal do Rio de Janeiro, em 2009, o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos identificou um dos dilemas que perturbam o jornalismo no País e oscila entre o dever profissional de difundir notícias e análises e o papel político que exerce, “na medida em que forma opinião, agenda demandas e, eventualmente, beneficia ou cria obstáculos para governos”.
“A imprensa brasileira não tolera a ideia de governos independentes, autônomos em relação às suas campanhas. Isso implica um caminho de duas mãos. Significa que ela terá de sobreviver sem os governos. Então, é preciso que os governos precisem dela”, diz.
O núcleo da proposta do PT trata do que chama de “novo ambiente” do setor com o surgimento de novas mídias, a reestruturação das telecomunicações e da radiodifusão, além do choque “econômico e político” entre as telefônicas e as televisões.
Assim é possível entender melhor o porquê da propagação de que há no País ameaça à liberdade de imprensa em razão do debate do marco regulatório que o Congresso, cedo ou tarde, vai discutir.
ANDANTE MOSSO
O DEM ameaçado
Além do PSD do prefeito paulistano Gilberto Kassab, três outros partidos têm pedido de registro no Tribunal Superior Eleitoral: Partido dos Servidores Públicos do Brasil (PSPB), Partido da Pátria Livre (PPL) e Partido Democrático da Vida Social (PDVS).
O DEM ameaçado
Além do PSD do prefeito paulistano Gilberto Kassab, três outros partidos têm pedido de registro no Tribunal Superior Eleitoral: Partido dos Servidores Públicos do Brasil (PSPB), Partido da Pátria Livre (PPL) e Partido Democrático da Vida Social (PDVS).
Excetuado o PPL, os outros três ocuparão o chamado “campo da direita” no espectro político.
Isso quer dizer que a morte ronda o DEM.
Regra ou exceção?
Em nove meses de ocupação militar no Morro do Alemão, no Rio, houve mais de 50 Autos de Prisão em Flagrante, por desacato.
Em nove meses de ocupação militar no Morro do Alemão, no Rio, houve mais de 50 Autos de Prisão em Flagrante, por desacato.
Uma média superior a cinco registros por mês.
Talvez isso tenha atraído a atenção da organização Human Rights Watch, que, sigilosamente, andou investigando eventuais excessos no local.
Ação desorganizada
Inconformados com a inércia da Força-Tarefa designada pela Procuradoria-Geral da Justiça Militar para acompanhar a ação do Exército no Morro do Alemão, três procuradores militares decidiram agir de forma independente.
Inconformados com a inércia da Força-Tarefa designada pela Procuradoria-Geral da Justiça Militar para acompanhar a ação do Exército no Morro do Alemão, três procuradores militares decidiram agir de forma independente.
Esse vazio deixado pela Força-Tarefa também foi ocupado pela Procuradoria da República e pode gerar problemas.
Em 2006, ação militar no Morro da Providência provocou fato semelhante. Dois procuradores da República responderam a processo disciplinar, por pressão do Ministério Público Militar.
Moral da história: o crime é organizado, mas os órgãos do Estado, não.
Jabaculê
Os movimentos anticorrupção, ampliados aos Três Poderes da República, desprezam sempre o outro agente: o corruptor.
Os movimentos anticorrupção, ampliados aos Três Poderes da República, desprezam sempre o outro agente: o corruptor.
Há uma bilateralidade nesse crime que, de maneira geral, também se ignora no Brasil.
Talvez seja o caso de afixar nas repartições oficiais do Executivo, do Legislativo e do Judiciário aquelas plaquetas encontráveis em praças públicas: “Não dê comida aos pombos”.
Afinal, o País exige humor para aguentar a situação.
Marketing da faxina
Por trás do “Movimento Faxina Brasil – Pela ética, contra a corrupção” há um forte trabalho de marketing.
Por trás do “Movimento Faxina Brasil – Pela ética, contra a corrupção” há um forte trabalho de marketing.
Os marqueteiros, nesse caso, dão uma mãozinha, digamos, à espontaneidade da mobilização.
Moralismo e ética
Neste tempo de sombrio moralismo, adoto a lição do psicanalista Jurandir Freire Costa:
Neste tempo de sombrio moralismo, adoto a lição do psicanalista Jurandir Freire Costa:
“A grandeza da ética está no fato de ser o tempo inteiro levado a discernir quando é preciso fazer exceção àquilo que se aceita como princípio básico de condução da vida”.
Ele faz a distinção com o moralismo:
“Moralismo é um tipo de atitude em que o indivíduo cristaliza uma posição e a partir disso não sabe mais negociar com a realidade e as circunstâncias – ou opta pela moralidade em relação aos outros ou pretende arbitrar continuamente aquilo que deseja”.
Força municipal
Estudo recente do Ipea mostra que recomposição de pessoal no setor público, após o furacão neoliberal, foi “importante”, porém “insuficiente”, tendo como referência o número de servidores que, em 1992, atingiu o pico de 680 mil.
Estudo recente do Ipea mostra que recomposição de pessoal no setor público, após o furacão neoliberal, foi “importante”, porém “insuficiente”, tendo como referência o número de servidores que, em 1992, atingiu o pico de 680 mil.
Na década passada, houve um processo acelerado de municipalização de servidores públicos civis, que representam agora 52,6% do total (tabela).
O maior crescimento foi nas áreas de educação, saúde e assistência social.
Para o Ipea isso tem tradução. A prestação de serviços ao cidadão é cada vez mais realizada pelas prefeituras.
É um sinalizador para a campanha municipal de 2012.
Mulheres: procuram-se
Os 27 partidos oficialmente registrados até agora no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) devem estar desesperadamente à procura de mulheres dispostas a entrar na disputa das eleições municipais de 2012.
Os 27 partidos oficialmente registrados até agora no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) devem estar desesperadamente à procura de mulheres dispostas a entrar na disputa das eleições municipais de 2012.
Esse problema ocupou boa parte da recente audiência pública dos representantes partidários no TSE. A lei foi modificada no Congresso, e o que anteriormente era apenas uma orientação a partir de 2009 tornou-se obrigatoriedade: 30% das candidaturas devem ser preenchidas por mulheres.
É um grande desafio para os partidos. Principalmente nas eleições municipais como as que ocorrerão em 2012.
O TSE acredita que os partidos, a partir da mudança de 2009 até hoje, investiram em cursos e campanhas de esclarecimento junto às mulheres, “levando-as a uma melhor conscientização política”.
Essa história consolida uma lição que poderia nortear também os relatores da reforma política: nenhuma legislação consegue moldar a realidade como pretendem os legisladores.http://www.cartacapital.com.br/politica/equivocos-bilaterais