Pintadas comemora BA 414. Os pintadenses são os nossos gauleses
Pintadas é uma cidade do sertão da Bahia. O município, dirigido por governos de esquerda desde 1996, pôde sentir na pele o real significado do termo “Toninho Malvadeza”, apelido dado ao falecido cacique pefelista Antônio Carlos Magalhães.A primeira reação do carlismo à vitória da oposição nas eleições de 1996 não tardou a chegar e naquele mesmo ano a agência do BANEB, única da cidade, foi fechada. A reação do município também não tardou. Rapidamente foi implantada a Cooperativa de Crédito de Pintadas (Sicoob-Sertão), que começou com um capital inicial de R$ 10 mil e logo chegara à cifra de R$ 1,5 milhão.
A deputada estadual Neusa Cadore, então prefeita eleita pelo Partido dos Trabalhadores em Pintadas, sofreu toda espécie de perseguição e represálias. Ninguém tem o apelido de “Malvadeza” a toa, não é mesmo?
Entretanto, o povo de Pintadas nunca abaixou a cabeça. Uma rede social invejável se formou no município, com a participação importante de setores progressistas da igreja católica.
Para fugir do cerco carlista, o município apostou na organização social e na articulação internacional. Se o município fora banido dos investimentos do Governo do Estado, sob o domínio tirânico de ACM, a saída era a organização popular.
Pintadas começava a virar quase uma lenda entre os intelectuais de esquerda da Bahia. Tal qual os gauleses, que não se subjugavam ao domínio de Roma, os pintadenses enfrentavam heroicamente o cerco do império carlista.
Professores e estudantes da Universidades Federal da Bahia transformaram o município em objeto de estudo e uma corrente de solidariedade foi criada com a ajuda da academia. E esta campanha tomou o mundo.
Parcerias com a Itália, França, Bélgica e Áustria, além de ONGs nacionais, possibilitaram a implantação de cisternas de captação de água da chuva, numa ação então pioneira no estado.
A “Rede Pintadas” fazia história na Bahia e envolvia segmentos diversos da sociedade civil para captar recursos que o Estado da Bahia negara aos insurgentes cidadãos do município.
A mudança empolgava a esquerda baiana. Implantou-se o Orçamento Participativo e o município aumentou em 100% as vagas nas escolas (logo no segundo ano da primeira gestão).
A evasão escolar que em 1996 chegou a 55%, foi reduzida a 19%, ainda no primeiro mandato de Neusa Cadore.
O projeto “Pintadas Solar” foi um dos cinco vencedores do prêmio SEED em 2008 (rede global fundada pelas organizações IUCN, PNUD e PNUMA, que tem como missão promover parcerias em prol do desenvolvimento sustentável). O projeto promovia o uso de tecnologias apropriadas de irrigação e bombeamento de água com o objetivo de fortalecer a agricultura de pequena escala, a segurança alimentar e a geração de renda.
Logo o município acumulava outros prêmios nacionais e internacionais.
Com a vitória do presidente Lula o cerco fora quebrado e o império carlista desabou, após a vitória de Wagner.
Agora, os cidadãos de Pintadas comemoram uma de suas maiores conquistas: a construção da rodovia BA 414, que liga Ipirá a Pintadas. Pela primeira vez em sua história o povo de Pintadas tem acesso asfaltado ao município.
A pavimentação asfáltica “deverá impactar no desenvolvimento econômico e social, ampliando as oportunidades de geração de emprego e renda, sobretudo com a possibilidade de maior escoamento dos produtos da agricultura familiar”, afirma Neusa Cadore.
O povo de Pintadas não se verga.
Os pintadenses são os nossos gauleses.
Por Charles Carmo