Criador do UFC, Rorion Gracie não vê mais as lutas: 'Não é briga de verdade'
Em entrevista exclusiva, filho mais velho de Hélio Gracie fala da ascensão meteórica do evento e dos motivos pelos quais vendeu sua participação
Rorion Gracie mostra camisa com a imagem do
pai, Hélio (Foto: Arquivo pessoal)
pai, Hélio (Foto: Arquivo pessoal)
Filho mais velho de Hélio Gracie, Rorion Gracie é o responsável pela criação do Ultimate Fighting Championship (UFC), que desembarca no Brasil pela primeira vez desde 1998 neste sábado, com o UFC Rio (UFC 134), na Arena da Barra - o canal Combate transmite ao vivo. O evento teve seus primórdios nos desafios sem regras criados por Carlos e Hélio Gracie desde a década de 1920, que Rorion levou para os EUA ao se mudar para a Califórnia nos anos 1990. Decidido a provar a superioridade do jiu-jítsu brasileiro criado pelo pai em relação a outros estilos de luta, o atleta e empresário criou o UFC, que logo em sua primeira edição, em 1993, coroou seu irmão Royce como campeão e conquistou o público americano.
Em entrevista exclusiva, o primogênito de Hélio Gracie conta como foi a ascensão meteórica do UFC, se diz orgulhoso de seu papel na criação do evento e explica por que vendeu a companhia e não assiste mais às lutas.
- Queria uma briga de verdade. A integridade do combate é mais importante do que o dinheiro. Para mim, não representa a realidade - disse Rorion.O UFC Rio, ou UFC 134, acontece neste sábado na Arena da Barra. O canal Combate transmite todas as lutas ao vivo a partir de 18h (horário de Brasília). A página do Combate transmite a pré-hora com comentaristas (no sábado, às 18h) e o card preliminar (no sábado, às 19h).
Confira o bate-papo:Foi difícil organizar o primeiro UFC?
Rorion - A nossa companhia, a WOW Promotions, tinha uma parceria de 50% para cada lado com a Semaphore Entertainment, de Nova York. Mas ficou sob nossa responsabilidade bancar o primeiro UFC. Tinhamos que cuidar de toda a logística, desde o aluguel do estádio até a compra das passagens de todos os competidores e seus treinadores, transporte local para todo mundo, etc. Só conseguimos graças à colaboração financeira dos meus alunos da academia. A Semaphore, nosso associado para a transmissão via satélite, dizia: "Se a gente conseguir vender pay-per-view pra 45 mil casas, vai ser um sucesso". No primeiro show, a gente vendeu 85 mil. Eles ficaram chocados e no segundo show já financiaram o evento, tiraram o investimento deles e dividimos o que sobrou.
desafios que deram origem ao UFC
No segundo show, a meta era repetir a audiência de 85 mil casas pagando pay-per-view. Chegamos a 120 mil. No terceiro, 180 mil. No quarto, 250 mil. A revista "Forbes" descreveu o evento como a maior franquia da história do pay-per-view! Até que no Ultimate número quatro, Royce lutando com o Dan Severn, a gente tinha duas horas para a transmissão do pay-per-view, ao vivo. O sujeito era um monstro, as duas horas não foram suficientes. A transmissão da pay-per-view foi interrompida, mas a luta ao vivo durou mais três minutos. Ou seja, as pessoas que estavam em casa e tinham pago US$ 20 para ver a luta não viram o final. Foi a maior confusão na história do pay-per-view.
Tiveram que devolver o dinheiro e tudo?As transmissoras de pay-per-view tiveram que devolver o dinheiro, mandaram fitas da luta pelo correio, foi uma confusão danada. Perdemos dinheiro. Mas a publicidade que conseguimos foi sem precedentes. Só se falava nisso depois deste evento! Então meus sócios resolveram implementar regras.
E aí foi quando o pessoal da Semaphore quis botar tempo nas lutas?Eu não queria que interrompessem a luta de jeito nenhum. Eles diziam, "Rorion, temos que botar tempo sim, pois isto é um show de televisão". Eu respondi, "Luta com tempo marcado vai matar o show, pois se não houver um vencedor, a luta será decidida por jurados, ou se quando um golpe estiver sendo aplicado e acabar o round, o lutador tem que soltar o golpe que poderia decidir a luta, etc, vai deixar de ser uma briga de verdade, vai ser uma palhaçada". Eles falaram, "Rorion, sinto muito. A gente está financiando o evento, portanto vai ser assim". Eu então vendi minha parte e saí fora. Para mim, era uma questão de princípio, eu queria uma briga de verdade. A integridade do combate é mais importante do que o dinheiro. Eu não queria estar envolvido num show, que não representava mais a minha visão de briga de verdade.
E você nunca se arrependeu, mesmo o UFC tendo explodido depois?A ideia inicial tinha um propósito educacional, era a comparação de vários estilos de luta onde ficou estabelecido a indiscutível superioridade do jiu-jítsu. Agora, temos uma comparação de atletas, onde todos praticam o nosso jiu-jítsu. Portanto, fico feliz ao lembrar que sou o "pai da criança" e ver o sucesso da minha ideia. Porém, não assisto ao show, porque para mim não representa a realidade.
Qual é sua próxima meta? Agora estou empenhado numa luta muito mais importante, quero educar as pessoas no método de combinação alimentar desenvolvido pelo tio Carlos, conhecido como a Dieta Gracie, o verdadeiro segredo do sucesso da nossa família