Professores de filosofia, história ou economia sabem como me aborrece esse negócio de maquiavélico ter virado sinônimo de conspiração, ausência de escrúpulos, astúcia e imoralidade. Essa injustiça, que se perpetua há quase 500 anos, se deve a leituras apressadas de meu mais famoso livro, O Príncipe. Todo autor fundamental experimenta erros interpretativos. Mas poucos têm o dissabor de vê-lo constantemente impresso na linguagem cotidiana.
Quando escrevi O Príncipe, minha intenção era produzir um manual prático de como conquistar e manter o poder. Mas, ao contrário de outros filósofos, não idealizei a realidade. Elaborei o guia baseado em como os Estados eram e esperando sempre o pior do ser humano. E nem poderia ser diferente. Imagine fazer, nos dias de hoje, um manual de como vencer eleições no Brasil, recomendando que o candidato se declare a favor do aborto e não use caixa 2. Tal livro não passaria da primeira edição. Hoje vejo que parte desse descaminho interpretativo tem minha parcela de culpa. Eu errei no título. Em vez de O Príncipe, o livro deveria chamar-se O Monge e o Poder Executivo – autoajuda para governantes.
O Príncipe é uma obra de realismo político, sem utopias. Descrevi em detalhes como os tiranos atuam. Tive a coragem de mostrar como algumas medidas desagradáveis e fraudulentas podem, por vezes, ser do interesse do bem comum. Em suma, fiz a autópsia do poder. E você sabe, autópsia é algo que nunca cheira bem ou é bonito de se ver. Notem, eu não fui maquiavélico, não atuei ardilosamente. Não usei de truques e subterfúgios para impor minha visão e dar os meus conselhos. Pelo contrário. Fui o Mister M da política.
Outra coisa. Eu nunca escrevi que “os fins justificam os meios”. Desafio alguém a encontrar essa frase em qualquer um de meus livros. Essa falsa imputação me custou caro. E ajudou a consagrar o adjetivo maquiavélico com o significado que tem. No entanto, o tempo encarregou-se de provar que essa afirmativa expressa uma prática comum e verdadeira. Os fins (apoio político) justificam os meios (concessão de emissoras de rádio e Tevê). Tudo bem, eu fico com a autoria. Pode me dar o crédito.
Mas não vim aqui só para exorcizar ressentimentos. Tenho uma sugestão que considero justa e engenhosa. Proponho uma moratória do uso do termo maquiavélico. No seu lugar, usemos alguns notórios sem-vergonhas para criar novos adjetivos que carreguem o mesmo significado do termo a ser aposentado. Exemplo 1: Alfredo Nascimento foi danieldantélico na elaboração do esquema de superfaturamento. Exemplo 2: Um jornal precisa ser muito murdochélico para implantar escutas ilegais, em nome de obter matérias exclusivas. O importante é que o uso do nome do inescrupuloso no prefixo seja randômico. Nem mesmo o maior escroque do mundo merece o privilégio de monopolizar a perfidez.;blog do maquiavel
Quando escrevi O Príncipe, minha intenção era produzir um manual prático de como conquistar e manter o poder. Mas, ao contrário de outros filósofos, não idealizei a realidade. Elaborei o guia baseado em como os Estados eram e esperando sempre o pior do ser humano. E nem poderia ser diferente. Imagine fazer, nos dias de hoje, um manual de como vencer eleições no Brasil, recomendando que o candidato se declare a favor do aborto e não use caixa 2. Tal livro não passaria da primeira edição. Hoje vejo que parte desse descaminho interpretativo tem minha parcela de culpa. Eu errei no título. Em vez de O Príncipe, o livro deveria chamar-se O Monge e o Poder Executivo – autoajuda para governantes.
O Príncipe é uma obra de realismo político, sem utopias. Descrevi em detalhes como os tiranos atuam. Tive a coragem de mostrar como algumas medidas desagradáveis e fraudulentas podem, por vezes, ser do interesse do bem comum. Em suma, fiz a autópsia do poder. E você sabe, autópsia é algo que nunca cheira bem ou é bonito de se ver. Notem, eu não fui maquiavélico, não atuei ardilosamente. Não usei de truques e subterfúgios para impor minha visão e dar os meus conselhos. Pelo contrário. Fui o Mister M da política.
Outra coisa. Eu nunca escrevi que “os fins justificam os meios”. Desafio alguém a encontrar essa frase em qualquer um de meus livros. Essa falsa imputação me custou caro. E ajudou a consagrar o adjetivo maquiavélico com o significado que tem. No entanto, o tempo encarregou-se de provar que essa afirmativa expressa uma prática comum e verdadeira. Os fins (apoio político) justificam os meios (concessão de emissoras de rádio e Tevê). Tudo bem, eu fico com a autoria. Pode me dar o crédito.
Mas não vim aqui só para exorcizar ressentimentos. Tenho uma sugestão que considero justa e engenhosa. Proponho uma moratória do uso do termo maquiavélico. No seu lugar, usemos alguns notórios sem-vergonhas para criar novos adjetivos que carreguem o mesmo significado do termo a ser aposentado. Exemplo 1: Alfredo Nascimento foi danieldantélico na elaboração do esquema de superfaturamento. Exemplo 2: Um jornal precisa ser muito murdochélico para implantar escutas ilegais, em nome de obter matérias exclusivas. O importante é que o uso do nome do inescrupuloso no prefixo seja randômico. Nem mesmo o maior escroque do mundo merece o privilégio de monopolizar a perfidez.;blog do maquiavel