Em seu primeiro pronunciamento à frente da entidade, recorreu a um discurso já visto no movimento estudantil. Prometeu que a UNE, diferentemente do que diziam os críticos e a mídia, não teria dependência com o governo, mas sim uma relação “de respeito e pressão”.
Era resposta aos que viam nos patrocínios recebidos durante o evento indícios de que seria mais uma gestão “chapa-branca” ao governo federal. Dias antes, ao lado do estudante estava ninguém menos do que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aproveitou o evento para atacar os críticos de plantão.
Terminado o discurso oficial, Iliesco hoje evita subir o tom sobre os críticos da mídia. Parece não ter a intenção de comprar brigas logo em sua primeira semana à frente da entidade. Em vez disso, o estudante carioca defendeu, em entrevista a CartaCapital, a liberdade e o diálogo com a imprensa. A mensagem, com a bandeira branca aos críticos, foi reforçada por meio do Twitter, ferramenta que até pouco tempo parecia abandonada pelo dirigente, se levadas em conta as poucas e espaçadas mensagens postados no microblog.
O estudante de voz mansa, filiado ao PCdoB, aposta na convergência tecnológica e nas redes sociais para tentar recuperar o espaço da UNE no âmbito das movimentações sociais. Nos últimos tempos, tornaram-se cada vez mais comuns os protestos nos mais diversos cantos do Brasil convocados por ferramentas online, como Facebook ou Twitter, sem a intermediação de entidades estudantis, sindicais ou partidárias.
Para Iliescu, a UNE não perdeu espaço no contexto da mobilização social. Segundo ele, foram os jovens que se inseriram na vida do País como protagonistas. “O mundo mudou muito nas últimas décadas e as tecnologias têm uma interferência na forma da juventude se comunicar e organizar e a UNE está inserida nisso”.
Ele se refere ao novo site da entidade, lançado recentemente – graças à ajuda de anúncios pagos pelo governo de Goiás e da Caixa Econômica Federal. Criado para aproveitar a abrangência das redes sociais, o portal abusa das cores fortes e abre espaço para Facebook, Twitter, fotos e componentes em Flash para dar movimento. “Há uma diversificação cada vez maior das formas de manifestação e lutas e vemos isso com bons olhos”, diz.
Em seu perfil publicado no site da UNE, Daniel Iliescu é definido como um “fã de samba e de rock progressivo, de mochila nas costas e tênis batidos, [que] acompanha as últimas notícias pelo smartphone de onde acessa o Twitter e o Facebook [...]” Diz monitorar os blogs de política pela internet, mas não abre mão também dos jornais de papel.
Preocupado em conquistar espaço em outras camadas da sociedade, que não a estudantil, Iliescu defende uma abordagem mais ampla da UNE. “Temos nos esforçado para participar dos últimos protestos, fazendo com que a entidade consiga dar opinião em diversas questões. No último Congresso discutimos desde política a sexualidade”, destaca.
Quanto às outras metas de sua gestão, como a destinação de 10% do PIB para a educação até 2014, ante os 7% propostos pelo governo até 2020, Iliescu é incisivo. “Reconhecemos o esforço, mas não é o suficiente”. Ele propõe o envio de 50% dos recursos do Pré-Sal para o setor, mas demonstra cautela ao ser questionado se o valor não seria excessivo. “O Brasil já teve ciclos de desenvolvimento acelerado com concentração de renda, queremos que o Pré-Sal ajude a vincular crescimento com distribuição de renda. Na opinião da UNE a educação é a maneira mais eficiente de fazer isso”, diz.
Esguio, o estudante ainda rebate a afirmação de que a UNE é dominada atualmente pelo PCdoB, apelando para a pluralidade da entidade. “Participaram do 52º Congresso quase dez mil estudantes com visões de mundo diversas e boa parte deles sem filiação partidária. Dentro dos que são filiados há representantes de praticamente todos os partidos em nossa direção”, aponta.
Ao ser contestado sobre se o modelo de eleição da UNE por delgados – indivíduos escolhidos nas universidades para representar os estudantes na plenária final do congresso – não abria a possibilidade de compra de votos, ele afirma que desconhece uma alternativa mais eficiente. “O Brasil deve ser orgulhar de ter uma entidade com um processo como o congresso da UNE. É uma eleição transparente, consolidada e um modelo reconhecido, que possibilita maior credibilidade”.
Sobre o futuro na cena política nacional, um caminho comum para os que chegam à presidência da UNE, como o ex-governador de São Paulo José Serra e o ministro dos Esportes, Orlando Silva, o estudante diz que pretende seguir a carreira acadêmica. “Meus pais são professores universitários e também me interesso por essa área”, conta, mas adianta que a opção não é definitiva. “Acho a ideia de se decicar à vida pública algo generoso”.