Governador do DEM e aliados massacram professores de Santa Catarina

Avante professores, de  pé!
por Elaine Tavares, no seu blog, dica, via e-mail, de Maria Salete Magnoni e  Emílio Lopez
A cena apareceu, épica. Uma mulher, já de certa idade, rosto vincado, roupas simples, acocorada num canto da Assembléia Legislativa de  Santa Catarina. Chorava. As lágrimas correndo soltas pela cara vermelha e inchada. Num átimo, a câmera captou seu olhar. Era de uma tristeza  profunda, infinita, um desespero, uma desesperança, um vazio. Ali, na casa do povo, a professora compreendia que o que menos vale é a vontade das gentes. Acabava de passar no legislativo estadual o projeto do governador  Raimundo Colombo (DEM-SC), que vai contra todas as propostas defendidas pelos trabalhadores ao longo de dois meses de uma greve fortíssima.
Um ato de força. A deputada Angela Albino chorava junto com os professores, os demais sete deputados que votaram contra – a favor dos trabalhadores  – estavam consternados e, até certo ponto envergonhados por seus colegas. Mas, esses, os demais, os 28 que votaram com o governo, não se escondiam. Sob os holofotes das câmeras davam entrevistas, caras lavadas, dizendo que haviam feito o que era certo.
Puro cinismo. Na verdade o que aconteceu na Assembléia Legislativa foi o  que sempre acontece quando a truculência do poder se faz soberana.  Atropelando todos os ritos da democracia, o projeto do governador sequer passou por comissões, foi direto ao plenário. Foi um massacre. Porque é assim que é o legislativo nos países capitalistas, ditos “países livres e democráticos“. Os que lá estão não representam o povo, representam interesses de pequenos grupos, muito poderosos. São eleitos com o dinheiro destes grupos. Aquela multidão que esperava ali fora – mais de três mil professores – não era nada para os 28 deputados bem vestidos que ganham  mais de 20 mil por mês. Valor bem acima do que o piso que os professores tantos lutaram para ter, 1.800 reais. E estes senhores  estão se lixando para os professores estaduais porque certamente educam seus filhos em escolas particulares. Vitória, bradavam.
Mas os nobres parlamentares não ficaram contentes com isso. Ao verem os professores querendo se expressar, mandaram chamar a polícia de choque. E lá vieram os homens de preto com suas máscaras de gás,  escudos e armas. Carga pesada para confrontar aqueles que educam seus filhos. Triste cena de trabalhador contra trabalhador, enquanto os  representantes da elite se reflestelavam no ar condicionado. Por isso o olhar de desepero da professora, lá no canto, acocorada, quase perdida de  si mesma.
Ao vê-la assim, tão fragilizada na dor, assomou de imediato  em mim a lembrança da primeira professora, a mulher que mudou a minha vida. Foi ela quem me levou para a escola e abriu diante de mim o maravilhoso mundo do saber. Seu nome era Maria Helena. Naqueles dias de um longínquo 1965, ela era uma garota linda que morava do lado da nossa casa  em São Borja (RS). Normalista das boas, ela não ensinava nas escolas  privadas da cidade. Seu projeto de vida se constituiu ensinando nas  escolas da periferia, com as crianças mais empobrecidas.
Por morar ao lado da minha casa ela percebeu que eu, aos   cinco anos de idade, já sabia ler e escrever. Então, insistiu com minha mãe para que eu fosse para a escola, porque ela acreditava firmemente que  ali, naquele ambiente, era onde se formavam o saber.