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A inovação tecnológica é força motriz para o desenvolvimento econômico e social. Sempre foi aspecto essencial da produção, desde o início da substituição da força braçal pela energia mecânica, com a invenção da máquina de tear e da descaroçadora de algodão na 1ª revolução industrial, em 1780, na Inglaterra, bem como na 2ª revolução, em 1913, nos EUA, com a introdução da eletrônica e do motor de explosão e com o surgimento da informática, dos seus microchips e da biotecnologia na 3ª reestruturação produtiva das atividades industriais, em 1975, no Japão.
Passados esses conhecidos períodos, o debate atual é sobre o estágio desta força motriz e a emergência de uma 4ª revolução industrial ou produção inteligente e digital ou ainda, simplesmente, Revolução 4.0. Existem várias vertentes deste debate, algumas indicam que se trata tão somente de mais um aspecto das inovações tecnológicas da 3ª revolução. Outras linhas, no entanto, apontam para o começo de uma transformação que modificará com profundidade a maneira como trabalharemos, viveremos e nos relacionaremos socialmente.
Independente desta necessária discussão, há em curso mudanças de grande impacto no cotidiano da vida das pessoas que extrapolam o chão de fábrica e vão além do viés industrial dos períodos anteriores. O que não quer dizer, como se refere o pesquisador Alexandre Quaresma, em seu artigo Elogio à Tecnofobia, publicado na Revista Sociologia, “que acredite piamente que tudo oriundo da tecnologia e tecnociência é necessariamente bom, benéfico e útil à coletividade”, mesmo porque a tecnologia não é uma força externa à sociedade sobre a qual não temos nenhum controle, pelo contrário, precisamos customizar estas transformações para que sejam focadas na construção da qualidade de vida de todos os seres humanos.
O momento presente se diferencia dos anteriores em virtude da velocidade em ritmo acelerado das mudanças, da sua ampla medida de escala, profundidade e impacto sistêmico entre países, empresas e toda sociedade. Estes impactos atingem todas as esferas da vida, quer sejam na econômica, interferindo no seu avanço e no surgimento das startups e outros arranjos, na geração de emprego, e no conteúdo da capacidade do trabalho, quer sejam na esfera dos negócios, na expectativa dos consumidores e na prestação de serviços dos governos. Também serão atingidas as esferas da vida social, tanto nos aspectos das desigualdades como nos da ação comunitária e, por fim, a existência de cada indivíduo será impactada em sua identidade, moralidade e ética, em toda conexão humana.
As pesquisas científicas e as novas e criativas tecnologias geradas por elas parecem não ter fim. Suas megatendências e seus impulsionadores se inter-relacionam em três dimensões: a material expressa, por exemplo, nos carros autônomos, nas impressoras 3D e na robótica avançada da inteligência artificial (IA); a dimensão digital, conhecida como internet das coisas (IoT), que faz o elo entre as coisas físicas e as pessoas, através de plataformas tecnológicas conectadas por sensores e outros meios, como é o caso das cidades inteligentes; e a dimensão biológica, especialmente o campo da genética, com seus marcadores e mapeamentos de DNA que possibilitarão cada vez mais uma medicina de precisão, assim como a capacidade de produzir órgãos e outras próteses do corpo humano, que estão revolucionando de forma substancial o campo da saúde.
Sem dúvida, estas transformações só são possíveis graças ao aumento da capacidade de armazenamento de dados e à velocidade de seu processamento por supercomputadores, o Big Data, que usando algoritmos analisa, captura, armazena, faz a mineração e compartilhamento de uma infinidade de informações. O Big Data também tem provocado controvérsias quanto à sua postura intrusiva que invade a privacidade para enviar anúncios e publicidades de negócios sem o consentimento do usuário.
Por fim, ainda temos muito a compreender sobre este fenômeno. Contudo, diferente da perplexidade e da resistência que a introdução das inovações sempre provocou, as tecnologias disruptivas da Revolução Digital 4.0 se apesentam como uma oportunidade de ampliar o seu raio de utilidades para além dos interesses de mercado. É o que acontece no Japão e na Europa com o surgimento de um movimento alternativo conhecido como “Sociedade 5.0”, que pretende modelar o atual paradigma produtivo para atender os interesses da maioria, diante da realidade demográfica do envelhecimento e outras peculiaridades da população. Postado originalmente no site Bahia Noticias.
*Edson Valadares é presidente da Associação de Sociólogos da Bahia