O limite pífio entre o medo e o encantamento constatado por aqueles que chegam a Ilhéus em um avião é facilmente compreensível em função da exuberante geografia da terra da Gabriela. Tão amada quanto belíssima, a cidade possui, como por diversas vezes já tive a oportunidade de escrever em meus artigos, a inteligente habitude da valorização da arte. Há poucos dias, passava em frente ao Vesúvio quando observei uma garota, que devia ter cinco anos de idade e consumia ao lado da mãe uma porção tracalhaz de sorvete, questionar quem seria o “velinho da estátua”. A mãe, prontamente, lhe explicou que se tratava do Amado Jorge, e começou a discorrer sobre a vida do escritor enquanto eu, em função do tempo escasso que possuía lentamente me afastava. Fiquei refletindo sobre Ilhéus, sobre Jorge, sobre a tão falada Gabriela. Uma das maiores críticas que faço a nação brasileira é a ausência de compromisso do povo com a leitura, e, por diversas vezes, também com diversos outros elementos de sua cultura.
Em Ilhéus, felizmente, existe uma postura de maior compromisso com a cultura e a arte, fenômeno que se explica, em parte, pela imensa popularidade da obra de Jorge Amado, que tantos benefícios gera ao município. Ilhéus poderia ser uma cidade litorânea como outra qualquer, mas não é. Além do turismo das praias, Ilhéus possui o turismo do cacau, que outras cidades não possuem, e possui ainda o turismo cultural. Em que outro local do planeta é possível estar na mesma praça em que Jorge esteve e se inspirou para escrever grande parte de seus inesquecíveis romances? É correto dizer, portanto, que se a Finlândia, nação escandinava que possui muitos dos melhores indicadores sociais do planeta, possui Ludwig Runnemberg, e festeja o aniversário do poeta em 5 de fevereiro, data em que se come naquele país porções tracalhazes de mammi, um tipo de bolinho de chocolate, Ilhéus possui Jorge Amado, e quem o aprecia pode apreciar também o seu peixe favorito no Vesúvio.
Qualquer habitante da Amada terra da Gabriela agradece ao Amado Jorge a criação da personagem que, segundo o próprio escritor, foi publicada em dezenas de países e é mais conhecida que ele. Inspirada na obra de Jorge, a rede Globo de televisão exibiu, em 1975, a telenovela Gabriela, Cravo e Canela. A Telenovela, assim como o livro escrito por Jorge, abordava a cidade de Ilhéus na década de 1920, explorando o contexto da sociedade cacaueira. Em função da importância de Ilhéus no contexto cultural do Brasil, desde o ano passado diversas autoridades, assim como a maior parte da sociedade organizada, vêm requerendo da Globo a produção de um remake da telenovela para homenagear o centenário de Jorge Amado, fato que culminou no inteligente pronunciamento do vereador Paulo Carqueija, originando o requerimento número 073/2011, que solicitou ao presidente da fundação cultural, Mauricio Corso, a formulação de um expediente a rede Globo com o intuito de que a emissora pudesse reapresentar Gabriela, Cravo e Canela. A emissora, reconhecendo a incontestável importância da produção dessa clássica obra da teledramaturgia nacional, não apenas vai iniciar as gravações em janeiro de 2012, como também iniciará a exibição de Gabriela em abril de 2012, e confirmou, há algumas semanas, que muitos atores devem ser da região e que a trama será protagonizada pela atriz Juliana Paes, uma das estrelas da rede Globo na atualidade.
Paulo Carqueija é um homem democrático e eficiente. Diante de eventuais criticas jamais se furtou a esclarecer fatos e admitir que críticas, quando sérias e construtivas, auxiliam as pessoas a corrigir posturas. Sua eficiência lhe permitiu se tornar um dos vereadores mais atuantes em defesa da cultura Ilheense. Na Amada terra da Gabriela, a inteligente habitude da valorização da cultura e da arte é reforçada diante da brilhante atuação de Carqueija, que consegue no atual cenário político, um feito memorável: É protagonista de seu próprio mandato, ao invés de ser integrante de uma mera platéia dos mandatos alheios.
Chico Andrade é Geógrafo, professor, escritor e cientista político