Cacau: O desafio de produzir e preservar



Estimulada a solucionar a grave crise econômica e social oriunda do fantasmagórico período que se abateu sobre essa região nas últimas décadas em função da hercúlea e complexa crise da lavoura cacaueira, o sul da Bahia reage, na atualidade, criando soluções que salvam a si mesma e possuem importância no cenário internacional. Se há pouco mais de uma década soava como quimera a reinserção dessa região no contexto econômico mundial com o mesmo nível de importância outrora obtido, o futuro aponta para um patamar de importância superior ao anterior.

Os motivos que sustentam tal análise são inequívocos: Por décadas a fio, o futuro da cacauicultura foi considerado incerto em função da vassoura de bruxa, praga que afetou a produção e empobreceu o agricultor. Foram realizadas, contudo, experiências múltiplas de clonagem do cacau e estudo do genoma. Tais experiências, realizadas com sucesso, contribuíram para o início da solução dos problemas econômicos da região. Nos últimos anos, contudo, aliançadas ás pesquisas cientificas, surgiram práticas inovadoras que brotaram nos cacauais devido a consciência da sociedade local de aliançar a produção do fruto de ouro com a preservação ambiental, produzindo o cacau de forma sustentável.

No sul da Bahia, cidades como Ilhéus, Uruçuca e os demais municípios que integram essa região rica em biodiversidade, estabelecem, na atualidade, um contraponto á situação de calamidade que vivenciam as nações do continente africano que tem sucumbido ao vírus Ebola e assistido a um cruel declínio na produção de suas lavouras cacaueiras. O sul da Bahia reúne infraestrutura, mão de obra qualificada, centros de pesquisas evoluídos, tecnologia de ponta, projetos econômicos em sintonia com a sustentabilidade e vocação para agregar valor á matéria prima produzida. Essa gama de fatores consolida, hoje, a reinserção da região no complexo cenário econômico internacional. A região possui ares aprazíveis, e está inserida, no que se refere ao clima, no tipo intertropical úmido, sendo a temperatura média anual de 24C e a média das temperaturas mínimas de 19C, apresentando um clima quente e úmido de floresta considerado ideal para o cultivo do cacaueiro.

Enquanto isso, autoridades do mundo inteiro tentam conter a propagação do Ebola no Oeste da África, exatamente a região do planeta que produz dois terços da produção mundial de cacau e que, violentamente afetada pelo surto, assiste ao declínio veloz de sua produção, acompanhada pelo mercado internacional com apreensão e responsável pela disparada do preço do chocolate no mercado. O preço do cacau já subiu 23% e possui hoje, viés de alta em sua cotação. Logicamente, o drama humanitário que envolve o Oeste Africano e os milhões de afetados pelo Ebola torna a questão econômica menos importante, mas não impede que economistas já comecem a contabilizar inúmeros prejuízos.

O Ebola está concentrado em três nações africanas: Guiné, Libéria e Serra Leoa, que já contabilizam mais de quatro mil mortos de acordo com dados preliminares da organização mundial de saúde. Convém observar que, do outro lado da região fronteiriça leste da Libéria e da Guiné, está localizado o maior produtor mundial de cacau da atualidade, a Costa do Marfim. Ao lado da Costa do Marfim, está localizada Gana, nação que é a segunda maior produtora de cacau do mundo. Hoje, Costa do Marfim e Gana respondem por quase 64% da totalidade da produção planetária de cacau. De acordo com dados divulgados recentemente pela organização mundial do cacau, o preço médio da tonelada no mercado médio de New York saltou de 2,6 mil em Setembro de 2013 para 3,2 mil, o que representa um valor estratosférico.

A tendência é que a commodity siga com preços elevados, o que deve valorizar ainda mais o cacau produzido no sul da Bahia, cada vez mais beneficiado e transformado em chocolates de reconhecida qualidade no mercado nacional e internacional, a exemplo de chocolates como o Sagarana e o CHOR, que significa chocolate de origem e pertence ao conceituado empresário Marco Lessa. Poder se deliciar com uma tracalhaz porção de chocolate na região cacaueira da Bahia é ainda mais interessante quando se pode observar o processo de colheita do fruto em uma fazenda. Os trabalhadores responsáveis pela colheita do fruto usam podões e, assim, deixam milhares de frutos amarelos espalhados ao chão. Por aqui, é comum afirmar, quando a chuva é forte, que o “cacau está caindo”. Só quem já vivenciou a fantástica experiência de observar uma colheita é capaz de compreender o significado da analogia que originou a expressão cunhada pela população local, cujo maior desafio, em tempos hodiernos, é elevar a produção da lavoura cacaueira de forma sustentável.

Texto de Chico Andrade, postagem original do blog do Chico.