Antônio David: Dilma tem chance de vencer no primeiro turno, corre risco no segundo e sofre entre jovens e nas grandes cidades

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– Dos que consideram o governo Dilma ótimo/bom, 77% declaram ter a intenção de votar em Dilma (p.50). Considerando que hoje o cenário é de indefinição sobre segundo turno, e que mais ou menos um terço do eleitorado considera o governo ótimo/bom, esse dado é crucial. Esses 23% restantes representam nada menos do que entre 7% e 8% do eleitorado. Se Dilma conquistar esses 23% restantes ou boa parte dele, é grande a chance de ela ganhar a eleição no primeiro turno.
Há dois tipos de pergunta nessa pesquisa: espontânea (em que não são apresentados nomes de candidatos ao eleitor) e estimulada (em que são apresentados nomes).
– Na espontânea, chama a atenção que a maioria dos eleitores ainda está indecisa. A seguir, alguns dados sobre o perfil dos eleitores indecisos:
a) 54% ainda não sabem em quem votar. Na espontânea, Aécio tem 9%, Campos apenas 2%. Dilma, 22% (p.30)
b) As mulheres estão muito mais indecisas do que os homens (p.31). Na estimulada também (p.47)
c) Há mais indecisos na base potencial de Dilma: mais pobres e ensino fundamental (p.31), o que leva a crer que ela tem potencial de crescimento quando a campanha começar.
d) Há mais indecisos na região sul. (p.32)
– Acrescente-se aqui um dado importante: os candidatos ainda são pouco conhecidos. Inclusive Dilma. 32% dos eleitores dizem que conhecem Dilma “um pouco” e 15% “só de ouvir falar”. Esse mesmo dado para Aécio é 27% e 37%, Campos, 18% e 34%. (p.53-55). Portanto, tudo depende da campanha na TV e rádio, e dos eleitores que hoje estão indecisos e/ou não conhecem muito bem os candidatos.
– Considero ser muito importante saber como se comportam os eleitores que consideram o governo Dilmaregular. Considerando que quem considera o governo ótimo/bom tende a votar em Dilma e quem considera o governo ruim/péssimo tende a votar em outros candidatos, são os eleitores que consideram o governo regular que definirão a eleição. Hoje, mais de um terço encaixam-se nesse perfil. Como se comportam esses eleitores?
a) Na espontânea, 62% dos que consideram o governo Dilma regular não sabem em quem votar (p.34).
b) Na estimulada, apenas 30% declararam ter a intenção de votar nela. 31% ou não sabem ou pretendem votar em branco/nulo, e 40% em outros candidatos. [Dá 101% por conta dos arredondamentos]. Mas deste universo, 31% dizem que não votam em Dilma de jeito nenhum (p.66). Então, tirando 30% que votam nela e 31% que não votam nela, sobram expressivos 39%! Esses em particular definirão a eleição.
c) Entre os que consideram o governo Dilma regular, num segundo turno Dilma x Aécio, 43% votam em Aécio e 40% em Dilma. Na polarização PT x PSDB (petismo x antipetismo) a grande maioria se posiciona.
– Reparem na página 35 que 48% dos que dizem votar em Aécio na estimulada dizem não saber em quem votar na espontânea. No caso de Campos, é 56%. No caso de Dilma, 38%. Ou seja, por enquanto os oposicionaistas têm uma pequena vantagem entre os eleitores indecisos.
– Em relação à evolução da pesquisa estimulada (p.37), não se pode esquecer que nesses 5 meses Aécio só fez campanha; Dilma quase não fez. É natural que ele tenha subido um pouco e a diferença tenha caído.
– Um dado interessante na página 37: comparando a pesquisa de maio com essa, Dilma e Aécio estão estáveis, Campos caiu um pouco, e aumentou de 8% para 14% o percentual dos que dizem não saber em quem votar na estimulada. Ou seja, aumentou o percentual de indecisos. Como a avaliação do governo Dilma está estável, isso talvez decorra do fato de ter havido muita “campanha” de Aécio e Campos nos últimos meses, através da imprensa, sem que tenha havido campanha de Dilma na mesma proporção. Ou seja, campanha faz muita diferença.
– Nas páginas 42 e 44, reparem que essa variação (aumento de indecisos entre maio e junho) foi maior justamente na base potencial de Dilma: eleitores com ensino fundamental e mais pobres.
– Onde Dilma tem dificuldade?
a) Nas páginas 38, 48 e 64, está claro que o gargalo de Dilma é o Sudeste. Até no Sul Dilma tem folga (p.46).
b) Dilma está com dificuldade entre os mais jovens (páginas 47, 63 e 71) e grandes cidades (páginas 48, 64 e 72). Na tabela referente a segundo turno, dá pra ver que a dificuldade se estende à faixa de 2 a 5 SM e ensino médio (p.71). Ou seja: jovens em grandes cidades, que estudaram, mas ganham relativamente pouco (mas mais do que seus pais) e que não têm a memória do governo FHC, hiperinflação, desemprego etc. Acho que o sentimento é de grandes expectativas (criadas pelo lulismo) aliado a uma certa frustração e talvez a um certo sentimento de estagnação. A ver.
– Reparem na relativa pulverização do voto entre os mais jovens, 16 a 24 anos (p.47). Os mais velhos são mais conservadores, apegam-se àquilo que lhes dá mais segurança. Comparados aos mais velhos, é mais forte entre os jovens a busca por alternativas. Mas não se deve hiperdimensionar esse dado. Mesmo assim, também entre os mais jovens predomina a polarização petismo x antipetismo.
– Havendo segundo turno entre Dilma e Aécio, 55% dos eleitores de Campos votariam em Aécio contra 26% em Dilma (p.75).
– Um dado triste para a esquerda: havendo segundo turno entre Dilma e Aécio, 64% dos eleitores de Luciana Genro votam Aécio e apenas 20% em Dilma; 50% dos eleitores de Zé Maria votam em Aécio, contra 28% em Dilma. Portanto, a polarização que domina a sociedade é mesmo petismo x antipetismo (p.75).
– Dessa vez eles não perguntaram se a pessoa votaria em um candidato apoiado por Lula ou por FHC etc. Também não perguntaram sobre percepção e expectativas quanto a inflação, desemprego etc. Estranho terem omitido isso. Esses dados são importantes. Uma pesquisa anterior mostrou que FHC é péssimo cabo eleitoral ao passo que Lula é ótimo cabo eleitoral.
– Em resumo: Dilma tem chances reais de ganhar no primeiro turno. Na campanha ela tem boas condições de crescer e fazer a diferença entre ela e os demais aumentar. Mas, se houver segundo turno, eu diria como sendo razoável a chance de Dilma perder.
PS do Viomundo: Faz tempo que insisto que o PT, em vez de falar aos jovens das regiões metropolitanas, resolveu cair na esparrela de que as manifestações de 2013 foram coisa apenas de “coxinhas”, uma tese desmiolada que ganhou grande alcance graças à própria blogosfera. Em vez de pensar sobre o problema, foca na ínfima minoria dos que adotam a tática black bloc. Abraça a fulanização da política: Sininho, que não importância alguma, é usada para mascarar o problema real da falta de canais para o engajamento dos jovens na política. Os discursos raivosos contra os black blocs e a Sininho geram muitos cliques e audiência para a blogosfera. Mas os problemas reais dos quais eles derivam ficam intocados. É como se não tivessemos uma crise urbana, que atinge da qualidade do transporte público à falta de opções de lazer para os jovens. Infelizmente para o PT e felizmente para Aécio, os avestruzes ganharam o debate.
Matéria do Viomundo.