Carta aberta de fundação do Coletivo Treze de maio













[Segue a Carta de fundação do Coletivo Treze de maio, onde estão as linhas mais gerais do grupo. Procuramos ser mais sucintos e objetivos, e como esse não é um texto “doutrinário”, sabemos que alguns elementos podem não ter sido abordados nesse momento, mas no decorrer das lutas e das demandas, esses e outros pontos serão mais bem destrinchados.
Apesar de a Carta não ser tão grande, em breve lançaremos uma versão reduzida.
E estamos em processo de discussão para as atividades a serem realizadas... vem coisa boa aí! Assim que tivermos uma data confirmada ela será divulgada.
Venha construir você também!!!
Há braços de luta!!!]
Carta aberta de fundação do Coletivo Treze de maio

“Novos tempos, novos rumos, novos e bons ventos de luta se apresentam!”

O movimento social é a forma dos diversos segmentos da sociedade civil se organizar para lutarem por suas demandas. Destaca-se como um dos braços mais importantes dos movimentos sociais brasileiros o movimento estudantil, que protagonizou diversos momentos históricos, a exemplo da luta pela criação da Petrobras e pela redemocratização do nosso país.

Tendo em vista essa responsabilidade histórica, surge na UESC um coletivo – que tem a intenção de unir não só os estudantes, mas também os técnicos e docentes – com intuito de debater de forma aberta e democrática os rumos e as intervenções na sociedade, a partir da nossa universidade, fazendo com que a UESC se torne de fato um instrumento de transformação da realidade regional.

Nosso pensamento é romper com os muros da academia e consolidar um canal mútuo de construção entre sociedade e universidade. Com base nesse entendimento, podemos estabelecer uma intervenção mais efetiva no contexto local, utilizando de nossos conhecimentos acadêmicos não como “caminho da salvação”, mas que junto com todo acumulo dos diversos movimentos sociais, e a população em geral, possamos fazer virar realidade o sonho de termos uma sociedade justa, igualitária e alicerçada em bases extremamente democráticas.

Treze de maio, a importância

“Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem” (Rosa Luxemburgo)

O nosso coletivo traz também uma reflexão sobre as perspectivas da referida data. O Movimento Negro Unificado (MNU) batizou esta data como “Dia de Denuncia Contra o Racismo”, por entender que o mito da democracia racial até hoje só colabora para que não sejam observadas as desigualdades existentes entre negros e brancos.

Outra reflexão que podemos fazer é tomando como exemplo o Dia Internacional da Mulher. No dia 08 de marca de 1857, em Nova Iorque, cerca de 130 mulheres que reivindicavam numa greve por melhores condições de trabalho e remuneração, foram duramente reprimidas. Trancaram-nas na fabrica onde protestavam e incendiaram a mesma. Mesmo com esta fatalidade, esta data se tornou, para além da questão comemorativa, símbolo de resistência. E, é isto que nos motivou: A IDEIA DE RESISTÊNCIA!!! A abolição da escravatura, que aconteceu aos 13 dias de maio de 1888, rompeu com as correntes institucionalizadas que prendiam o povo que foi arrancado de sua pátria mãe e trazido para o Brasil a força. Porém, o fim da escravidão que era autorizada por lei não trouxe a justiça social esperada. Outras amarras precisaram ser quebradas.

Até hoje o Estado brasileiro tem essa dívida histórica, mas foi, e é necessário o suor, a boa vontade e o senso de igualdade e justiça social de muita gente para que passos importantes nessa reparação fossem dados. Bons exemplos disso são as políticas de cotas, a lei de combate ao racismo e o Estatuto da Igualdade Racial. Lembrando que ainda temos muito que avançar para que consigamos chegar a uma reparação realmente justa e esperada.
O nome do nosso coletivo foi inspirado nesta data, e também na intenção de quebrar correntes que nos prendem até hoje. As correntes de toda e qualquer discriminação – como a homofóbica, a machista, a racista, a social, a contra deficientes, e todas as outras existentes; quebrar as correntes do autoritarismo nos movimentos sociais, onde grupos, ou vanguardas, sem ouvir ou saber a opinião da maioria, achando serem os detentores do saber e da verdade, ditam o que deve ser seguido pela base; quebrar as correntes do individualismo, que nos prendem em nossos próprios interesses, fazendo com que as pessoas deixem de lado a busca pela resolução de problemas coletivos, se engajando coletivamente; a quebra com o discurso anti-dialético, que defende posições de forma intransigentes, só desejando a alternativa que lhe cabe, e desconsiderando que, de modo dialético, todo embate tem como resultado a síntese de posicionamentos distintos (e como esse embate de posições – esse movimento – é constante, prova que nossas ações estão passiveis a reflexão, ao diálogo com a realidade, e mudança); quebrar com o sectarismo, que acredita ser tão radical, que se isola e acaba não atingindo de forma relevante a raiz do problema - o discurso anti-dialético junto com o sectarismo acabam gerando posicionamentos quase que “messiânicos”, de tão “perfeitos” e “imutáveis” que se consideram, ou seja: pura e simples demarcação política. E nos propomos a discutir tudo isso com muito respeito às opiniões diferentes, porém com a firmeza e seriedade necessárias, buscando sempre a maior coerência possível.

Contudo, só o Treze de maio - com nossa força de vontade, crença que só no engajamento cotidiano poderemos transformar para melhorar a realidade - não trará a resolução de todos os problemas sozinho. Por isso nossa palavra de ordem é construção coletiva, junto com a base. É necessário que mais e mais pessoas venham aderir esse projeto, que ouçamos mais vozes... todas elas!

Não temos “receita de bolo” para resolução de todas as demandas. E se fosse para fazermos proposições nossas, sem ouvir as diferentes partes, os diferentes saberes, não precisava construir esse programa, falando de toda essa coletividade – de nada adiantaria tudo que defendemos aqui até agora. Queremos fazer valer a idéia de que várias cabeças pensam melhor que uma.

É melhor enfrentar os problemas sozinhos, ou organizados, e com muita gente?

Não queremos escolher o caminho a ser trilhado, mas desbravá-lo junto com todas e todos. E, lembrando sempre que a maioria, desorganizada – e oprimida – só interessa a minoria, que está organizada – detém o poder e oprime.

Treze de maio ocupando espaços

“Também não podemos deixar de achar um absurdo ridículo e pueril as argumentações ultra-sábias, empolgadas e terrivelmente revolucionárias dos esquerdistas alemães a respeito de idéias como: os comunistas não podem nem devem atuar nos sindicatos reacionários; é lícito renunciar a semelhante atividade; é preciso abandonar os sindicatos e criar uma “união operária” novinha em folha e completamente pura, inventada por comunistas muito simpáticos...” (Citação de Lênin em seu livro, “Esquerdismo, doença infantil do comunismo”, falando sobre militantes comunistas esquerdistas que não queriam disputar espaços que tinham reacionários presentes)

Comungamos com a idéia de João Pedro Stedile, de que para se pensar em socialismo, ou em uma sociedade igualitária, é necessário primeiro ter uma grande militância – base social – , e também realizar a disputa institucional – que não é só a disputa político-eleitoral, mas também a disputa de movimentos sociais em geral (entidades de categorias, associações de bairro, etc). Diante disso, faz-se necessário a disputa de espaços como esses na Universidade - que são os C.A.’s, D.A.’s,DCE, e no caso da UESC, também a AFUSC e a ADUSC - para mostrar a nossa cara, nossas idéias, construir junto com a base, e assumir o compromisso de defender e mobilizar todas e todos não só para questões acadêmicas – que são importantes e irão contribuir para nossa formação enquanto profissional e como cidadãos –, mas também para as diversas questões que assolam a sociedade.

Como é tático a ocupação desses espaços, e as entidades mencionadas anteriormente são locais, não podemos perder de vista âmbitos de representação como o estadual e federal. Compreendemos que por mais que tais entidades passem por problemas, de qualquer natureza, elas são reconhecidas institucionalmente e gozam de espaços de interlocução muito importantes. Não deve ser finalidade de qualquer movimento social a conquista de entidades. Mas sim, conquistar esses espaços como um dos meios para se romper com o status quo – esta sim deve ser nossa finalidade. A opção por se abster, ou apenas criticar, esses espaços não avança em nada nas bandeiras que defendemos, pelo contrário. O que vai acontecer é que esses espaços serão ocupados por pessoas que farão o que bem entender deles – e com a conivência de quem se ausentou.

Diante disso, fica o chamamento a todas e todos que acreditam em uma sociedade melhor - justa, igualitária, democrática e socialmente referendada - para nos unirmos nessa luta. Enquanto setores que acreditam e brigam por um Brasil, e por um mundo melhor, estão separados e se digladiando, quem defende que tudo permaneça como está acaba passando despercebido. Estamos do mesmo lado de uma mesma trincheira, porém em locais diferentes. Divergências sempre irão existir – dentro de um único grupo, ou em um âmbito geral – , e é salutar que elas existam. Mas temos que pautar o que nos une, e não no que divergimos.

Só assim, fazendo esse diálogo com a realidade, buscando coerência cada vez maior entre teoria e prática, e arregaçando as mangas, que vamos fazer com que nossas pautas avancem.
Saudações de luta!!!

“Carrego pra onde vou
O peso do meu som
Lotando minha bagagem
o Meu maracatu pesa uma tonelada de surdez
E pede passagem” (Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada
– Nação Zumbi)